São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

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SÉRGIO DÁVILA

Na "bolha" com Obama

por SÉRGIO DÁVILA

Único brasileiro a viajar na comitiva que acompanhou o líder norte-americano à Cupula das Américas, encerrada na última semana, colunista espia a entourage presidencial

  1. Mr. Cool has a cold. Barack Obama está resfriado. Pelo menos é o que parece de onde eu vejo, sentado numa sala de Los Pinos, o complexo presidencial mexicano, na capital do país, enquanto ele fala ao lado de Felipe Calderón. Quando é a vez de o mexicano discursar, o norte-americano parece querer dar umas pescadas de sono. Setenta jornalistas do mundo inteiro, cinco da América Latina, apenas um do Brasil, deixamos a base aérea Andrews, em Maryland, Estado vizinho a Washington, no dia 16 de abril à noite. Chovia a cântaros. Obama acabara de voltar de um giro de oito dias por seis países que o derrubou.
  2. Agora, na tarde seguinte, parece cansado. Sua voz está fraca. O homem que conquistou a Europa 15 dias antes, apenas por aparecer lá e dizer que queria ouvir e conversar, começou baleado sua estreia na América Latina. Aos poucos e nos próximos dias, no entanto, ele vencerá as resistências e deitará as bases da "Doutrina Obama" -ou, como ele chamou brincando, "o obamismo". Nós vemos tudo de dentro da "bolha", apelido do ambiente de segurança no qual somos colocados para acompanhar Potus ("President of the United States", acrônimo usado pela equipe que o acompanha) nos próximos quatro dias, primeiro no México, depois em Port of Spain, em Trinidad e Tobago.
  3. Viajei na "bolha" de George W. Bush quando o republicano foi ao Brasil e a outros países da América Latina em 2007. O esquema é o mesmo. O presidente vai no Air Force One, a aeronave presidencial, com o principal da comitiva e um pool rotativo de meia dúzia de jornalistas. O resto da tigrada vai num segundo avião, que apelidamos de "Air Force P", de "press" (imprensa). Se o esquema é o mesmo, o clima agora é diferente. Até os agentes do serviço secreto, que se sentam no fundo do avião "P", parecem mais relaxados -embora tenham ensaiado uma minirrebelião quando as aeromoças sugeriram exibir "Austrália", com Nicole Kidman e Hugh Jackman; a pedido deles, o filme acabou sendo trocado pelo do último 007.
  4. Outra mudança é o aumento da importância relativa do Brasil. Em 2007, ouvi comentários de uma jornalista sobre cavalos em São Paulo, e a maioria dizia "mucho gusto" depois de eu falar de onde vinha. Agora, todos me perguntam sobre Lula, etanol, qual o papel que o país terá na negociação dos EUA com a Venezuela e Cuba, por que Obama se refere tanto ao presidente brasileiro, como foi a visita no Salão Oval, em Washington. É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar.
  5. Mudou também a equipe que acompanha o presidente. São mais jovens (reflexo da troca de geração representada pela chegada ao poder do democrata de 48 anos), mais animados (por ser o primeiro trimestre do primeiro ano de gestão? Ou consequência do clima de movimento estudantil que foi a campanha?), mais acessíveis. E tietes do popstar que acompanham há pelo menos dois anos, agora na perna latino-americana de sua turnê de conquista mundial.
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