São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

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O tempo de achar que Deus é brasileiro já passou

por ANA RIBEIRO

Louca de paixão pelo marido, o conde italiano Carlo Lovatelli, a jovem alemã ?Sabine lovatelli desembarcou no Brasil em 1971. Acostumou-se na marra ao clima tropical e, dez anos depois, fundou o Mozarteum, que iniciou este mês sua temporada 2009 de concertos internacionais. Serão oito atrações no total. Além de tocar para um público requintado, os músicos vêm com o compromisso, previsto em contrato, de dar aulas abertas para estudantes na favela de Heliópolis.

Cheguei ao Brasil em dezembro de 1971, direto do inverno europeu para São Sebastião. Fui colocada debaixo de uma palmeira e tive tamanha insolação que levei uma semana para me recuperar. Não fiquei com trauma de praia. Tenho casa em Trancoso, na Bahia.

Em 1971, não tinha nada de música em São Paulo. Para me integrar e me ocupar inteligentemente, quis colaborar com a programação musical da cidade. Esbarrei com um muro de burocracia. Eu sozinha com a bela ideia de fazer um concerto não ia chegar a lugar nenhum. Pedi ajuda para homens de negócios e amigos, como os economistas Mario Henrique Simonsen (1935-1997) e Octavio Gouvêa de Bulhões (1906-1990) e o empresário José Ermírio de Moraes Filho.

A Lei Rouanet, de incentivo à cultura, possibilitou durante esses últimos anos a atividade cultural no país, porque do governo não sai nada. Já fiz o teste: tenho programas sociais, bolsas de estudos lá fora, tentei sensibilizar o governo para me ajudar a levar jovens brasileiros para estudar na Europa. Pode até haver boa vontade, mas é uma bagunça tamanha que o pedido nem chega a ser cogitado.

Temos uma parceria com o Instituto Baccarelli, escola de musicalização em Heliópolis, e só trago ao Brasil músicos estrangeiros que se dispõem a dar aulas para as crianças.Não queremos favorecer os pobres, e sim fomentar talentos.

Os concertos do Mozarteum (associação cultural voltada para a música erudita que realiza todos os anos uma temporada internacional de concertos) acontecem na Sala São Paulo, às vezes no Teatro Alfa. Adoraríamos ir ao Municipal, mas ele foi simplesmente esquecido. As pessoas não querem ir até lá por um único motivo: a falta de estacionamento. O teatro fica às moscas e ninguém se mexe. Eles forçam o valet service, mas ninguém quer ficar uma hora esperando na saída. As pessoas que não têm motorista não vão. E a maioria das pessoas não tem motorista.

Tanto faz uma mulher ou um homem na Presidência. O próximo presidente do Brasil tem de ter capacidade, competência e visão do mundo. Ser alguém que viajou, conheceu vários países, o pensamento de outros. O tempo de ficar reclusos aqui porque achamos que Deus é brasileiro já passou.

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