São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

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ONDE

Menina do Rio

por RUY CASTRO

Muitos dos endereços De carmen miranda -onde ela morou, trabalhou e namorou- continuam de pé.

Carmen Miranda é uma paixão. De 1929 a 1939, dos 20 aos 30 anos, foi a maior estrela do disco, do rádio, do cinema e dos cassinos no Brasil. Quando se mudou para os EUA, naquele último ano, levou apenas alguns minutos para se tornar um grande nome da Broadway e, em seguida, de Hollywood. Foi então descoberta pelo mundo.

Tantos anos depois de sua morte -em Beverly Hills, aos 46 anos, em 1955-, as pessoas guardaram mais a memória da Carmen internacional do que a da carioca e brasileira. E, só agora, no ano de seu centenário de nascimento, estamos repatriando a Carmen do samba e do Carnaval, que imprimiu a bossa na música popular brasileira e lançou compositores como Assis Valente, Synval Silva e Dorival Caymmi.

Seus novos fãs querem saber tudo sobre essa Carmen menos conhecida. E uma maneira de fazer isto -além de ouvir seus discos- é seguir seus passos pelas ruas do Rio, onde ela chegou aos dez meses de idade, em 1909, vinda de Portugal com sua família. Por sorte, muitos endereços onde Carmen morou, trabalhou e namorou na Cidade Maravilhosa continuam de pé.

Começando pela zona portuária e terminando em Copacabana, o mapa e o texto seguem uma linha cronológica e geográfica. Taí -agora é só ir em frente.

1. Rua Santo Cristo, Zona Portuária
Ali ficava, nos anos 30, o estúdio da Odeon, onde a cantora gravou "Camisa Listada", "Uva de Caminhão" e tantos sucessos. Hoje, as ruas adjacentes, principalmente a Sacadura Cabral, voltaram a ser um point noturno do Rio e nelas pululam vibrantes gafieiras.

2. Rua Senhor dos Passos, 59, Saara
O predinho onde Carmen morou de 1910 a 1912, quando muito criança -de um aos três anos- continua no mesmo lugar. Pena que em estado lamentável.

3. Rua da Candelária, 50 (atual nº 94), Centro
Ela morou ali também, dos três aos seis anos, de 1912 a 1915. Só que esse sobrado foi restaurado e está lindo. Em 1914, Carmen caiu de sua janela no segundo andar. Mas não se machucou, porque aterrissou sobre um rolo de fios telefônicos.

4. Rua Mayrink Veiga, 15, Centro
Ali era a rádio Mayrink Veiga, que inventou tudo no rádio brasileiro na década de 30 e da qual Carmen foi a grande estrela (nem se falava ainda na rádio Nacional). Hoje, o prédio abriga outra empresa. Bem defronte, no outro lado da rua, ficava a primeira barbearia de "seu" Pinto, pai dela.

5. Travessa do Comércio, 13, Centro
É o endereço da famosa pensão de refeições de dona Maria, mãe de Carmen, onde moraram de 1925 a 1932. Está lá até hoje, mas é uma tristeza. Por ali, passaram vários estabelecimentos, nenhum deles digno da memória da cantora. O interior está completamente descaracterizado, e até uma placa na porta -onde se lia "Casa da Pequena Notável"- sumiu.

6. Rua do Ouvidor, 141, Centro
Ali, ficava La Femme Chic, a loja de artigos masculinos de Luiz Caruso, onde Carmen trabalhou como balconista em 1924 e recebeu seu primeiro salário.

7. Esquina da r. do Ouvidor com a travessa do Comércio, Centro
É a igreja de N. Sra. da Lapa dos Mercadores, que a cantora, católica, frequentava quando morava na travessa do Comércio. Continua lá, pequena e acolhedora, como no tempo do Brasil Colônia.

8. Rua do Mercado, quase esquina com a Ouvidor, Centro
Era o estúdio da Victor, primeira gravadora de Carmen. Foi onde ela gravou o "Taí (Pra Você Gostar de Mim)", em janeiro de 1930.

9. Rua Primeiro de Março, 95, Centro
Endereço da principal barbearia de seu pai, montada com o dinheiro que ela ganhou com a gravação de "Taí".

10. Rua Gonçalves Dias, 55. Centro
Endereço de A Principal, outra loja de artigos masculinos, onde também trabalhou como balconista, quase em frente à Confeitaria Colombo. Foi ali, em 1925, que ela conheceu Mario Cunha, misto de galã e remador do Flamengo, e seu namorado pelos sete anos seguintes.

11. Rua do Passeio, 78, Cinelândia.
Era o ateliê de costura da francesa Madame Anaïs, onde Carmen começou em 1923, como aprendiz. Depois, ali se instalou o cinema Plaza, hoje ainda de pé, mas desativado.

12. Rua Joaquim Silva, 53, casa 4
Lapa Dos endereços residenciais da estrela no Rio, é o único que já não existe. Ela morou ali dos seis aos dezesseis anos, de 1915 a 1925. Era uma casa de vila. Atualmente, é um hotel.

13. Rua André Cavalcanti, 229, Santa Teresa
Casa onde morou, no Curvelo, dos 23 aos 25 anos, de 1932 a 1934. Está lá até hoje, desocupada. Tem placa na fachada registrando sua passagem.

14. Rua Silveira Martins, 12 (atual nº 20), Catete
Atualmente, é o hotel Inglez. De 1934 a 1936, era o prédio de apartamentos onde ela e sua família moraram no térreo, defronte aos jardins do antigo Palácio do Catete, hoje?Museu da República.

15. Rua do Catete, 64, Catete
Nesse número, ficava a elegante sapataria do português Guedes, que fabricou seu primeiro par de plataformas, seguindo as especificações dela.

16. Rua Tavares Bastos, Catete
Morro onde, em 1926, ficava o estúdio de cinema de Paulo Benedetti, um dos primeiros do Brasil, em cujos filmes Carmen sonhava (em vão) trabalhar. Depois de décadas esquecido, o Tavares Bastos, que não tem tráfico nem traficantes, voltou a abrigar um importante pólo de cinema e audiovisual.

17. Praia do Flamengo, esquina com rua Ferreira Viana, Flamengo
Ali fica (até hoje) o edifício Seabra, quase gêmeo do famoso Dakota, de Nova York. Carmen era grande amiga dos milionários Seabra, donos do prédio, e ia muito lá.

18. Av. João Luiz Alves, s/nº, Urca
Endereço histórico onde se instalava o Cassino da Urca, cuja identificação com a cantora, entre 1937 e 1940, é total. Quando o governo Dutra fechou os cassinos, em 1946, o belo prédio art déco passou décadas alugado à TV Tupi, que quase o destruiu. Está sendo restaurado agora pelo Istituto Europeo di Design, que já recuperou o prédio do lado da praia e fará o mesmo com o que fica junto ao morro. Será palco neste ano de uma exposição sobre Carmen.

19. Av. São Sebastião, 131, Urca
Seu último endereço no Brasil, a partir de 1935. A casa, com placa na porta, tem agora novos proprietários. Eles são simpáticos, mas roga-se não incomodá-los.

20. Praça do Lido, Copacabana
Antigo Pavilhão Lido, que a jovem Carmen frequentava com seu namorado Mario, para dançar. Havia ali também um balneário, que ela e sua irmã Aurora -as duas já estrelas do disco e do rádio- usavam quando iam à praia em frente.

21. Av. Atlântica, 1.702, Copacabana
É, naturalmente, o Copacabana Palace, em cujo cassino Carmen cantou, em 1935. Vinte anos depois, em 1955, em sua longa vinda ao Rio, ele passaria quatro meses hospedada em seu Anexo.

22. Av. Atlântica, 4.264, Copacabana
Ali, ficava o Cassino Atlântico, onde Carmen cantou e que serviu de inspiração para o cassino mostrado no filme "Alô, Alô, Carnaval!", de 1935, no qual as irmãs Miranda lançaram a marchinha "Cantoras de Rádio". O prédio, também uma joia art déco, foi demolido nos anos 70. Hoje é um hotel.


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