São Paulo, domingo, 26 de julho de 2009

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SÉRGIO DÁVILA

Lygia Fagundes Telles revê seus livros e sua vida

em LOS ANGELES

Brasil, A velha rota de fuga

Quando as coisas apertam, é em terras brasilis que o barco atraca

É um assunto recorrente, sobre o qual já escrevi, mas que voltou a pipocar na minha cabeça desde que a outra jornalista da casa comprou os óculos modelo Jets to Brazil, da griffe Paul Frank. Uma googlada mostrou que é o nome de uma banda, inspirado no cartaz do filme "Bonequinha de Luxo", com Audrey Hepburn, adaptado de "Breakfast at Tiffany’s", de Truman Capote.

No livro, a personagem principal é amante de um diplomata brasileiro com o improvável nome de "José Ybarra-

Jaegar" (o narrador explica que Jaegar é pela ascendência alemã; José é um genérico gringo para latinos; mas Ybarra?). Ela termina fugindo para o Rio. Não foi a primeira (o livro é de 1958; o filme, de três anos depois), nem terá sido a última a, na dúvida, fugir para o Brasil –ou por lá ficar. De Samantha, a personagem lasciva de "Sex and The City", a "Interlúdio" (1946), o thriller de Alfred Hitchcock que se passa no Rio, são muitas menções, nem sempre honrosas ao país, nas obras de ficção.

Assisti outro dia a "Inimigos Públicos", o grande filme de

Michael Mann sobre o assaltante de bancos John Dillinger, que tem

Johnny Depp no papel principal. A certa altura, ele diz para a namorada (Marion Cotillard) que vai fazer mais um assalto, desta vez a um trem pagador, e fugir. "Para Havana?", ela pergunta. Não, bem mais para o sul, diz: o Rio.

Segundo biografias, Dillinger planejava mesmo torrar seus milhões ilegais em terras tupiniquins, como fez outro ladrão da vida real, Ronald Biggs, hoje de volta à Inglaterra e à prisão. Lembro de tudo isso por conta do encontro fortuito que eu e um amigo jornalista tivemos no dia do "showneral" de Michael Jackson, num estádio em Los Angeles.

Quando quase desistíamos de nos infiltrar entre amigos e familiares, um ex-assessor de Jackson nos salvou a pele. Era Steve Manning, quase dois metros, dentes da

Mônica (do Mauricio de Sousa), jaquetão e mocassim, que, enquanto nos conduzia à porta de entrada e, de lá, à pista, nos falou do desejo de Michael de voltar ao Brasil.

Jackson esteve três vezes no país, uma com os irmãos, nos anos 70, outra em 1993, na turnê de "Dangerous", a última em 1996, para gravar um clipe dirigido por Spike Lee. Nenhuma teve o caráter de "fuga para o Brasil", mas então me lembrei de uma sessão do julgamento do cantor, acusado de assédio sexual de menores, em 2005, em Santa Maria, na Califórnia --acusações das quais foi inocentado.

Três testemunhas afirmaram que um ex-produtor seu armara um "plano de fuga" do menino de 13 anos e doente de câncer, a suposta vítima do assédio, e de sua família, em março de 2003. Eles seriam levados a uma cidadezinha brasileira em que ninguém falava inglês, onde estariam a salvo de supostos perseguidores.

Me pergunto se não é isso que Barack Obama imagina a cada vez que reafirma o desejo de visitar o Brasil, como fez em Washington na última terça, à ministra Dilma

Rousseff. Um país longe dos republicanos, de Wall Street, das guerras do Afeganistão e do Iraque, das reformas emperradas. Um lugar onde ele é apenas Obama, o pop star.

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