São Paulo, domingo, 26 de julho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FINA

Coisa mais linda

por TOM CARDOSO

Quem é Cláudia Faissol, a socialite que sonha em tornar o namorado, João Gilberto, tão popular quanto Roberto Carlos

Há menos peixinhos a nadar no mar do que os beijinhos que a socialite Cláudia Faissol tem dado em seu grande amor. Ah, insensato coração. Ela, 37 anos, corpinho de 20, é apaixonada por João Gilberto, 78. E ele, há anos casado com seu violão, também por ela –os dois têm uma filha juntos, Luiza, de cinco anos. Cláudia estava casada com o empresário Eduardo Zaide quando engravidou de João, escândalo que fez a alegria das revistas de fofoca e preocupou o pai da moça, Olympio Faissol. O dentista-celebridade, que já cuidou dos molares de Frank Sinatra, Marilyn Monroe, Roberto Marinho e do próprio João Gilberto, tem tido certo trabalho para domar as filhas. A irmã mais velha de Cláudia, Heloisa Faissol, jogou para o alto os anos de estudo na Suíça e virou Helô Quebra-Mansão, a nova sensação do funk carioca, autora do hit "Dou pra Cachorro": "Tô fervendo, tô no ponto/ Eu dou no primeiro encontro".

Cláudia é mais discreta que a irmã. Não fala publicamente sobre sua relação com João Gilberto. Abriu exceção à reportagem da Serafina, que passou uma tarde com ela em seu apartamento na rua Nascimento Silva, em Ipanema, a duas quadras de onde Tom Jobim ensinou a Elizeth as músicas de "Canção do Amor Demais", disco em que João começaria a mudar a história da música brasileira. O cantor não mora ali –passa o dia de pijama em seu apartamento no Leblon, ensaiando–, mas é como se morasse. Está por toda a parte. No ímã de geladeira, no suporte para o mouse do computador, em fotos espalhadas por todos os cômodos e nos LPs colados na parede.

Cláudia vence a timidez inicial, pega o violão e canta em ritmo de bossa nova "La Vie en Rose", a canção francesa imortalizada por Edith Piaf. João gostou da versão? "Sim, ele disse que tem potencial para virar um best-seller", anima-se. Mesmo com os elogios do mais rigoroso dos mestres, ela nem pensa em ser cantora. "Desenvolvi uma exigência absurda, que eu preferia nem ter desenvolvido. Adoro cantar e tocar, mas para quem convive com João é sempre difícil achar alguma coisa boa", diz, resignada.

Formada em jornalismo, Cláudia quer escrever a biografia do namorado e aproveitar para "desmistificar o caráter elitista da bossa nova". "Quando eu leio escritores consagrados enaltecendo o fato de a bossa nova ser uma música para poucos, eu desejo estar morta, dura, dentro de um caixão." Ela se refere ao livro "Chega de Saudade", de Ruy Castro? "Sim."

CÂMERA NA MÃO

Antes da biografia, há ainda o documentário. Cláudia grava depoimentos do cantor desde 2001, quando, com a ajuda do pai, conseguiu entrar em seu inatingível apartamento. Não foi fácil. "Ele não falava nada. Só ficava tocando violão, disperso, como se eu não estivesse ali", lembra. Acabaram apaixonados. "João não é um homem bonito, mas é muito charmoso", elogia. Olympio nunca comentou o namoro da filha com um de seus mais antigos clientes. "Nessa hora, o melhor que um pai tem a fazer é não dizer nada mesmo", acha Cláudia.

Olympio Faissol é tão discreto quanto seu genro mais famoso. Recusa-se a revelar quais sãos seus clientes e só para parentes e amigos mais chegados conta como foi conviver com estrelas como Frank Sinatra e Marilyn Monroe. Workaholic, nunca se interessou por música, cinema ou teatro. Vive para a odontologia. "Meu pai só pensa em trabalho, trabalho e trabalho", diz Cláudia. Dos herdeiros, apenas uma filha, Marta Faissol, é dentista. Assim como o pai, tem uma vasta clientela de celebridades. "Meu pai é tão desligado do mundo que uma vez encontrou o Lulu Santos no consultório, aguardando para ser atendido, e perguntou: ‘Quem é esse tipo estranho sentado no sofá?’. O Lulu estava no auge da carreira, todo mundo sabia quem era, menos o meu pai", lembra ela.

Cláudia está empenhada em ajudar João a vencer a guerra que ele trava na justiça contra a EMI, detentora do catálogo da antiga Odeon. Discos históricos, como "Chega de Saudade" (1959), "O Amor, o Sorriso e a Flor" (1960), e "João Gilberto" (1961) não estão disponíveis em CD. Tudo porque a EMI decidiu compilar os três álbuns em um único CD, intitulado "O Mito", lançado em 1992. Sem a autorização, a gravadora remixou o disco, trocou a ordem das canções e teria até incluído instrumentos novos, provocando a fúria do cantor, que na Justiça conseguiu retirar os CDs das lojas. Cláudia sente cheiro de conspiração. "A Odeon sempre morreu de medo de que João concorresse com os Beatles e, claro, fez de tudo para alterar os discos e diminuir sua qualidade", diz. "Foi um dos maiores crimes da indústria fonográfica."

NEGÓCIOS À PARTE

Seria Cláudia uma nova Paula Lavigne, ou Flora Gil, que passaram a comandar a carreira de seus respectivos maridos, Caetano Veloso e Gilberto Gil? "Não, não pretendo administrar a carreira do João. Quando me procuram, levo propostas para ele analisar." Ela, porém, sonha em ver o namorado cantando para um Maracanã lotado, assim como Roberto Carlos. "Adoraria que todo o povo brasileiro pudesse ter acesso ao que eu tive. A bossa nova é escutada pelas massas no mundo todo, por que tem de ser diferente aqui?"

No começo do namoro, Cláudia até tentou tornar João, famoso pelos longos períodos de hibernação, mais sociável. Os dois caminharam juntos pelo Leblon, mas andaram apenas meia quadra. "Um fã se ajoelhou e começou a beijar os seus pés. Não desgrudava. Ele ficou chocado com a cena." O melhor, ela diz, é deixá-lo trabalhar. No apartamento, o cantor baiano produz como um operário. "João passa o dia cantando, tocando. Tem tanta música nova! Outro dia, vendo televisão, ele transformou em obra-prima uma canção de Chitãozinho e Xororó", conta.

Luiza, a filha de cinco anos do casal, já está decidida: será cantora. O pai não deu moleza. Passou a lição de casa: ensaiar "O Pato" todos os dias. Reza a lenda que João teria levado à loucura o gato de Astrud Gilberto, sua mulher na época, ao cantar, exaustivamente, centenas de versões de "O Pato". Se a filha puxar o perfeccionismo do pai, suas bonecas que se cuidem.

Cláudia em seu apartamento, em Ipanema, onde vive cercada de fotos e LPs do namorado; ela costuma tocar "La Vie en Rose" ao violão, em ritmo de bossa nova

Texto Anterior: EXCLUSIVO: Fotos e ilustrações inéditas de Lina Bo Bardi
Próximo Texto: TÊTE-À-TÊTE: Elza Soares e o "carpe diem"
Índice


Clique aqui Para deixar comentários e sugestões Para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É Proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou imPresso, sem autorização escrita da Folhapress.