São Paulo, domingo, 26 de julho de 2009

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NO RIO

Um passeio de bonde pela bucólica Santa Teres

por HELOISA SEIXAS

Vida rica em santa teresa

Uma tarde cheia de surpresas. Todas boas

Fazia tempo que eu não ia lá. Às vezes, passando pela Lapa e vendo o bonde amarelo deslizar pela lâmina dos Arcos, dava uma vontade de subir até esse bairro de tantas facetas, que é Santa Teresa. No começo de junho, houve o Santa Teresa de Portas Abertas, quando os ateliês de arte são franqueados ao público, mas, por uma razão qualquer, não pude ir. Duas ou três semanas depois, a oportunidade apareceu.

Não fui de bonde, mas de carro, e já estacionei perto do largo do Curvelo com a intenção de começar minha visita pelo Parque das Ruínas. O compositor Aldir Blanc tem uma canção na qual se diz velho e cansado, embora não deixe de apreciar as mulheres jovens. E àqueles que o ridicularizam, ele lembra: "Andorinhas fazem ninho nas ruínas". Sempre penso em Aldir quando vou a esse parque em Santa Teresa, ao casarão em ruínas onde a beleza e a arte fizeram ninho.

A casa, que pertenceu a Laurinda Santos Lobo e recebeu festas que ficaram na história da noite do Rio, degradou-se depois da morte dela e, por uma pendenga judicial, acabou depredada. Hoje, o lugar renasceu: o que restou da casa é sustentado por uma estrutura moderna, de aço e vidro, e ali se realizam concertos e exposições. As velhas colunas, os portais de pedra, as paredes sem reboco –com tijolos que ainda trazem a marca da olaria que os fabricou, Viúva Guedes & Filho– podem ser apreciados enquanto subimos ao mirante, para descortinar uma vista panorâmica do Rio.

Mas, se o Parque das Ruínas tem seu encanto, o vizinho não fica atrás: é o museu Chácara do Céu. Passa-se de um a outro por um portão lateral e então, em meio à vegetação espessa, com mangueiras centenárias, abacateiros e pés de fruta-pão, surge a casa, moderna, de linhas retas. Tom Jobim dizia que a única coisa que conta é levarmos "uma vida rica", isto é, uma vida fértil, de preferência voltada para a beleza e a cultura. E poucas pessoas terão levado uma vida mais rica do que Raymundo Castro Maya, fundador da Chácara do Céu (onde morou). Além de restaurar a floresta da Tijuca, abandonada depois da instauração da República, Castro Maya fundou dois museus –a Chácara do Céu e o Museu do Açude, no Alto da Boa Vista– com as obras de arte que colecionou vida afora. Hoje, a Chácara exibe obras de Matisse, Modigliani, Degas, Seurat, Miró (havia um Picasso, mas foi roubado em 2006); de artistas brasileiros como Portinari, Di Cavalcanti, Volpi, Manabu Mabe, Iberê Camargo e Antônio Bandeira; e uma coleção de pinturas, aquarelas, desenhos e gravuras do século 19, incluindo pintores como Rugendas, Chamberlain, Taunay e Thomas Ender. Mas o mais impressionante talvez seja a fabulosa coleção de 500 aquarelas de Debret compradas em Paris por Castro Maya, que estão dispostas em pequenas gavetas. O visitante vai abrindo e se deliciando. Foi o que fiz.

Depois, caminhei em direção ao largo do Guimarães e, como a tarde caía, entrei num daqueles restaurantes que dão para a mata. Ali, sob uma árvore cheia de lanternas japonesas, tive por companhia uma família de micos-estrela, que vieram comer as rodelas de banana deixadas na amurada pelo garçom. Programa para deixar qualquer turista estrangeiro deslumbrado. E o curioso é que, no dia seguinte, li nos jornais que tinha havido um tiroteio em Santa Teresa naquela tarde de sábado. Nem eu nem os miquinhos ficamos sabendo.

Em sentido horário, três joias de Santa Teresa: o palacete do hotel Castelinho, o Parque das Ruínas e o Armazém Santiago.

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