ANAGRAMA

Não agüento mais responder se serei candidato

Por ANA RIBEIRO

Em uma conversa com Serafina, Fernando Henrique Cardoso, 77, mostrou-se receptivo a todo tipo de assunto, menos um: a mulher, Ruth Cardoso, morta em 24 de junho. O ex-presidente comentou a atitude de Tony Blair, de prestar consultoria para a iniciativa privada, falou da crise global e deu uma sugestão de como Bush pode ocupar seu tempo livre quando se mudar da Casa Branca.

Os presidentes americanos costumam publicar memórias (em geral escritas por "ghost writers"). Se Bush fizer o mesmo, terá a oportunidade de esclarecer alegações de que foi à guerra do Iraque sabendo que eles não dispunham de armas de destruição em massa. Mas isso requer coragem e integridade: não sei se são características de Bush.

Terminado seu mandato, George W. Bush pode entrar em algum circuito de palestras. Em universidades muito conservadoras ou em empresas que o tenham apoiado.

Pelo menos até a finalização do mandato do sucessor, acho que é melhor para um ex-presidente exercer atividades que possam ter caráter público: palestras, aulas, discussões pela mídia. A partir daí as informações do passado perdem relevância estratégica.

Sobre Tony Blair: fere a ética entrar em consultoria que envolva decisões sobre as quais o ex-presidente (ou Primeiro Ministro) possa dispor de informações privilegiadas.

Não conversei com Clinton depois da derrota de Hillary. Acompanho as eleições americanas pelos jornais, pelas TVs GloboNews, CNN-International e BBC, pela internet. Claro que falo com muita gente dos EUA e de outros países para avaliar as eleições e suas conseqüências.

Se tem um assunto sobre o qual não agüento mais responder é se serei candidato a alguma coisa, pois desde que deixei o governo disse que me afastaria da política eleitoral.

Aos 77 anos, passei por tantas reformas ortográficas que mal sei se devo ou não acentuar essa ou aquela palavra. Devo escrever "em vôo cégo, ou em voo cego?". Nunca sei.

Nada na minha vida deu mais trabalho do que ser presidente.