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Gente em expansão

por IARA CREPALDI

Bem-amados

Cecilia Amado conseguiu realizar, aos 32 anos, a aspiração de seu avô na juventude: "ser cineasta era o grande sonho dele". Após trabalhar em séries televisivas como "Cidade dos Homens" e em filmes como "O Que É Isso, Companheiro?", ela roda, em Salvador, seu primeiro longa-metragem, previsto para estrear entre 2009 e 2010, e cujo enredo também tem a ver com as quimeras do "vô Jorge". A diretora adapta para o cinema "Capitães da Areia", um dos livros mais famosos do escritor baiano Jorge Amado.

E quem vai interpretar Pedro Bala, Sem Pernas, Dora e os outros jovens da turma é um grupo selecionado entre mais de mil candidatos indicados por ONGs locais. "São todos 'Capitães da Areia'. Mesmo os que não moraram na rua foram abandonados pelos pais, cataram papelão ou venderam droga. Quero que o povo veja esses 'bandidinhos' como as crianças que são."

Os adolescentes escolhidos fizeram oficina de atores com Christian Duurvoort, que cuidou do elenco de "Ensaio sobre a Cegueira". Eles são tratados por Cecilia como "filhotes". Ela gosta de acordá-los e de colocar música para eles durante a filmagem das cenas, que, depois, terão trilha sonora de Carlinhos ?Brown. "Meu avô me ensinou a amar os seres humanos. Principalmente os invisíveis, os marginalizados."

A escolha do roteiro foi quase compulsória. "A história me escolheu. Assisti a uma versão teatral do livro e senti que seria emocionante gravar com meninos daquele universo. Depois, veio a clareza de que pouca coisa sobre a infância carente mudou dos anos 30 pra cá."

Como para milhões de jovens brasileiros, "Capitães da Areia", de 1937, foi um livro que marcou a adolescência da cineasta. "Os personagens têm uma fome de viver, que todo adolescente tem obrigação de ter. Esperar o tempo passar não está com nada. Eu pensava assim aos 14 anos." Enquanto o filme não fica pronto, a diretora registra a história do grupo em www.capitaesdaareia.com.br.