São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 2010

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MEMÓRIA

A polêmica trajetória fashion do britânico Alexander McQueen (1969-2010)

por ALEXANDRE HERCHCOVITCH

DRAMAQUEEN

O estilista brasileiro escreve sobre a vida e a morte do criador britânico Alexander Mcqueen

Em sua curta trajetória, Alexander McQueen mostrou ao mundo –ou pelo menos àqueles que prestaram atenção em sua produção criativa–, que suas aparentemente "inusáveis" criações teriam espaço garantido no imaginário de cada um de nós. Ele construiu tudo aquilo que quis, deixando-nos com uma pergunta na cabeça: o que vem a seguir?
Nascido em Lewisham, Londres, McQueen escolheu um caminho sábio e muito diferente da maioria dos jovens que pretendem estudar moda: era obcecado pela construção. Todo o seu trabalho era elaborado com técnicas de alfaiataria, aprendidas nos ateliês da Saville Row, rua conhecida por ter os melhores alfaiates do mundo.
Daí para frente, aplicar tudo o que aprendeu foi fácil. Criações absolutamente intrigantes ganharam imediato respeito por serem extremamente benfeitas. Seu desfile de graduação chamou a atenção daquela que seria sua primeira cliente –a editora de moda Isabella Blow (1958-2007). Ela comprou sozinha toda a coleção do então estudante e passou a ser um outdoor ambulante de tudo o que era feito por McQueen –não importava se era dia ou noite, se a criação era difícil de usar, Isabella vestia como se estivesse usando uma camiseta branca.
Tive a oportunidade de assistir a três desfiles. Fiquei impressionado como a função de criador aparecia com força máxima. Ali, havia o desejo real de mudar as coisas, de fazer pensar no que se estava vendo, de questionar as mesmas coisas que ele questionava.
Mas estilista não faz roupa? McQueen ia além disso. Roupas eram somente o meio para sua expressão, havia uma paixão clara e inquieta e a certeza de que ele gostava do que estava fazendo. Parecia que a preocupação comercial não existia ou não era a principal –deixar o criador livre é mais sábio do que impor a ele regras e limites.
Eu saía dos desfiles com vontade imediata de produzir.
Sua busca pela perfeição despertou a atenção de uma das casas mais importantes da alta-costura francesa, a Givenchy. Essa união causou um momentâneo estranhamento por parte de todos: uma tradicionalíssima "maison" contratando um inglês sem papas na língua?
Sim, sua preocupação em aprender a construir antes mesmo de definir seu estilo fez com que ele fosse incluído nesse pequeno grupo de marcas com uma restrita clientela, e daí em diante aquilo tudo parecia ser um paraíso para ele, a melhor mão-de-obra do mundo à sua disposição. Com isso, firmou seu pé no luxo e nunca mais saiu.
A discussão do que era belo e do que podia ser aplicado à moda fez com que víssemos imagens inesquecíveis em seus desfiles –amputados desfilando, mulheres obesas em aquários, rostos perfeitos transformados por maquiagens perturbadoras, robôs e máquinas fazendo o trabalho de homens.
Numa imagem não menos intrigante, McQueen nos deixa, e a pergunta sobre o que vem depois continua sem resposta.

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