São Paulo, domingo, 28 de junho de 2009

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ANAGRAMA

Demora o mesmo tempo se vestir mal e se vestir bem

por ANA RIBEIRO

Como ficar com o mesmo marido 21 anos sem se encher? Nossa história é um grande caso de amor. Primeiro porque foi complicado, nós dois vínhamos de casamentos anteriores, ficar junto foi uma vitória. Segundo porque eu era maiorzinha, tinha 30 e poucos anos. Eu me casei pela primeira vez aos 18, daí me separei com 20; na segunda vez tinha 21, fiquei casada por dez anos. Logo em seguida me casei com o Paulo.

Detesto o meu nome. O som em inglês é horrível, em português acho curto e árido. De Ruthinha eu gosto. Vou ser aquelas velhas corocas chamadas dona Ruthinha!

Acho horrível quando sai nas revistas: fulana, tantos anos. Não é presidiária, não é candidata a cargo eletivo, o que importa a idade? Se falamos de um sujeito condenado a 40 anos de prisão, entendo a curiosidade. Para o resto do mundo, é informação boba.

Tem uma história ótima da Laurita Mourão. Era aniversário dela e estávamos jantando no (La) Tambouille. Ela tinha escrito um livro, estava sendo badalada, tinha muita gente descolada, a mesa enchendo. Aí chega um e pergunta: "Quantos anos mesmo você está fazendo?" E ela: "Não me lembro. Mas quantos centímetros mesmo tem o seu pau?"

Gosto muito de Chanel, mas escolho sempre a coisa menos óbvia da coleção, não tem o CC, não tem tailleurzinho. Como esse vestido que estou usando (a bota é Hermès). Se você comprar o que está na capa da revista, vai ter dez pessoas iguais a você.

No meu primeiro casamento fui ao Clodovil fazer o vestido e ele desenhou um modelo que me fazia parecer uma monja. Era março, o maior calor, e ele propôs mangas compridas. Eu falei que queria uma coisa mais leve, ele se irritou: "Gente bonita é um saco!" Eu nem era bonita. Mas ele foi agressivo, fiquei com medo e saí correndo.

Todo mundo brinca que estou sempre impecável, até na ginástica. Eu gosto de me arrumar. Demora exatamente o mesmo tempo se vestir mal e se vestir bem. Não vai te poupar tempo vestir uma coisa horrorosa. E eu não tenho coisas horrorosas no armário.

Elegante são tuas maneiras, o jeito que você trata seus empregados, suas conversas, sua cultura. Tem gente que te encontra num jantar e fala dos netinhos. Desculpa, o seu interlocutor não está nessa fase da vida, e, se está, vai falar daquilo com a família dele.

Você está em Nova York ou Paris, um bruta de um frio e tem um lindo casaco de pele numa vitrine: é difícil resistir. Hoje todas as peles têm uma etiqueta que atesta criação em cativeiro. Não é que uma raposa selvagem foi caçada para virar o teu casaco. Você não está colaborando com a extinção de nenhuma espécie.

Mansão, esposa e mordomo são palavras da ficção, só se fala assim em novela da Globo. Na vida real é casa, mulher e copeiro.

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