São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MODA

Somos básicos

por PEDRO DINIZ

Em entrevista exclusiva, o italiano Ermenegildo Zegna discorre sobre a elegância masculina e credita aos mercados emergentes o sucesso atual: "Se não fossem os chineses e os brasileiros estaríamos em uma situação complicada"

"Por favor, não confunda. Ele não é estilista, e sim o CEO do grupo. Apesar de ter esse nome, não fundou a marca –quem o fez foi seu avô, de quem herdou o nome. Ele não gosta muito de falar sobre moda, mas de números entende. Pode chamá-lo de Gildo".
O recado é dado antes da entrevista por um de seus assessores. Um pequeno atraso e ele entra na sala. De blazer e camisa azuis, calça cinza e sapatos Oxford marrons, Ermenegildo Zegna, 55, estendeu a mão, disse "Olá", sorriu e pediu água. Bebeu dois goles, desabotoou o paletó e encostou-se no sofá. "O que achou desta roupa? Queria algo mais relaxado. Você sentiu a maciez dos tecidos?", disse, apontando para uma arara no canto da loja repleta de ternos da coleção comemorativa de cem anos da marca que leva seu nome e é fetiche entre poderosos do mundo inteiro.
Nascido em Turim, no norte da Itália, Gildo comanda, ao lado de seu primo Paolo, a quarta geração de uma das poucas empresas de moda que se mantém familiar e ostenta o selo "made in Italy". Seu bisavô, Aldo Zegna, era relojoeiro no final do século 19, quando começou a tecer lã em uma pequena oficina caseira. Seu filho Ermenegildo (avô de Gildo) transformou o negócio, em 1910, numa fábrica de tecidos de luxo, que em 1945 exportava o brasão para 40 países. Em 2009, Gildo e Paolo fizeram a letra "Z" vender €797 milhões.
Entre os mais assíduos da grife, estão os atores Adrien Brody e Alec Baldwin, os jogadores de futebol americano Tom Brady, marido de Gisele Bünchen, e Eli Manning, o rapper americano Jay-Z, o diretor de cinema Michael Haneke e Lionel Messi, estrela da seleção argentina de futebol.
"Ao contrário das mulheres, os homens não procuram esconder ou maquiar sua personalidade por meio das roupas. Eles procuram a si próprios na novidade. E isso pode vir como um detalhe no terno, um tecido diferente ou serviços personalizados", diz Gildo.
Entre os serviços citados pelo executivo, está a possibilidade de encomendar um terno sob medida da grife (que pode custar até R$ 64 mil, se a lã usada for da criação de ovelhas australianas da marca) e atendimento personalizado nas lojas (em sua maioria, gerida por homens).
"É uma gente séria. Mesmo sendo uma empresa familiar, são altamente profissionalizados", diz a empresária e jornalista de moda Costanza Pascolato, uma das maiores autoridades nacionais em luxo. "Os italianos são os homens mais lindos e elegantes do mundo. Por isso, os Zegna sempre tiveram obsessão por qualidade e pela certeza de entregar o melhor tecido e o melhor corte, seja em um terno sob medida ou em linhas mais acessíveis", afirma Costanza, que nasceu no norte da Itália.

IMPÉRIO
Folheando um livro sobre a história da família, o executivo não esconde seu fascínio pelo império que herdou. Em Trivero, nos pés dos alpes, a estrada Panorâmica Zegna, capricho de seu avô concluído pela terceira geração da família, estende-se por 14 km. "Lindo, não é?", diz. Faz pausas para admirar as lojas desenhadas por arquitetos famosos, e as criações de ovelhas, vicunhas e llamas da marca, da Austrália ao Peru.
Atualmente, o grupo contabiliza 550 pontos de venda da grife em 86 países. "Sempre quisemos conquistar o mundo", diz Gildo. E hoje, é o mundo que os mantém.
Foi Gildo quem decidiu explorar, no ínicio da década de 90, mercados em expansão como China, Rússia, Índia e Brasil, um fator determinante para a saúde financeira do grupo. "Fomos a primeira marca de luxo a tentar. Se não fossem os chineses e os brasileiros estaríamos em uma situação complicada. Vocês estão por toda parte. Sempre que visito nossas lojas nos Estados Unidos escuto alguém falando português", gargalha. "Sério, os mercados emergentes representam 40% do faturamento. Quem deixa de aproveitar isso, morre."
Para não "morrer", Zegna ampliará a atuação da grife no Brasil. "Não tem mistério. Os homens são parecidos uns com os outros e entendem nosso conceito de moda. Seja casual ou formal, todos procuram evolução, não essa revolução propagandeada pela moda feminina a cada estação", diz sorrindo e com a testa franzida. "Somos básicos. Um desafio às mulheres."

Texto Anterior: POP UP: Ex-astro pornô é disputado por diretores cult de cinema, por Pedro Diniz
Próximo Texto: OPINIÃO: Italianos que vivem em São Paulo não aguentam mais ouvir palavrões em "Passione", por Barbara Gancia
Índice



Clique aqui Para deixar comentários e sugestões Para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É Proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou imPresso, sem autorização escrita da Folhapress.