São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2010

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OPINIÃO

Provocassione

por BARBARA GANCIA

Nunca saia por aí repetindo as expressões em italiano ouvidas na novela, a não ser que sua intenção seja causar um "imbroglio internazionale"

Há algo de podre cozinhando na panela de pomarolla. Não sei direito como dizer isto ao Silvio de Abreu, mas desconfio que ele ande sendo muito mal-assessorado.
Creio que não será preciso invocar São Enzo Ferrari nem cantar "Dio, Come Ti Amo" para que o leitor perceba minha italianidade. Queria ter nascido sueca, loira aguada, muda e serena, mas Deus fez de mim uma italianona, barulhenta e linguaruda. Fez também que eu usasse a oportunidade de ouro que me é aqui concedida pela revista Serafina para fazer um alerta crucial.
Alô, telespectador desavisado de "Passione"! Caso você não tenha nenhuma intimidade com a língua de Sofia Loren, Claudia Cardinale e Ornella Vanoni, melhor não arriscar. Veja bem: nunca, sob hipótese alguma, saia por aí repetindo as expressões em italiano ouvidas na novela. A não ser que sua intenção seja a de causar um "imbloglio internazionale".
Explico: em "Passione", palavras como "stronzo" e "troia" são distribuídas fartamente pelos personagens italianos como se fôssem ofensas amenas. Só que não são.
Digamos que "stronzo" não é um "bocó" ou um "pentelho" qualquer, longe disso. Melhor estar avisado da diferença do que se estrepar todo na sua próxima visita ao papa no Vaticano. "Stronzo" e "troia" são o tipo de palavra que integraria facilmente o vocabulário dos protagonistas dos canais a cabo Sexy Hot e For Man.
A italiana Linda Michalis, que costumava ajudar o amigo Raul Cortez a moldar seu sotaque na novela "América", concorda. "É inacreditável que usem esse tipo de linguajar em uma novela da Globo, em horário nobre", diz.
A consultora de estilo, Cláudia Matarazzo Miele, que tem sangue mezzo italiano, mezzo libanês, não é tão contundente: "Eu adooooooro a novela, acho engraçada", diz. "Fico analisando quem faz o sotaque italiano bem e quem não. A Aracy é perfeita, o Tony quase perfeito e o Gagliasso é incrível!", diz.
"Não tão perfeito, mas tem o jeito cafa de tantos italianos que a gente conhece". Ora, não me comprometa, dona Cláudia! Italiano que a gente conhece não enfiaria palavras como "dejeto" ou 'bagaceira" no meio da conversa com tanta facilidade.
E o que dizer do uso e abuso do adjetivo "schifoso" (nojento)? A meu ver, recurso linguístico que promove overdose de ênfase, só passa se você se chamar Silvio Berlusconi e estiver entre "amigas" e quatro paredes em sua propriedade particular na Sardenha.
"Eles usam o sotaque napolitano, mas os personagens deveriam ser toscanos, não deveriam?", pergunta a italiana Terri Massari, que segue o folhetim animadamente todos os dias. "Acho também que eles gritam demais", lamenta.
Concordo, Terri. Só faltaria o Silvio de Abreu ter inventado de fazer os atores falarem gesticulando como se fossem, sei lá eu, russos ou chineses, não é mesmo? Ainda bem que ao menos desse despropósito "Passione" não padece.

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