São Paulo, domingo, 29 de março de 2009

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tête-à-tête

Príncipe das marés

por Teté Ribeiro

Neto do oceanógrafo francês Jacques Cousteau, o americano Philippe Cousteau Jr. quer salvar a porção azul do planeta

Foi uma tragédia que fez o nome de Philippe Cousteau Jr. ficar conhecido, três anos atrás. Ele fazia parte de uma expedição na costa da Austrália para o canal Animal Planet, junto com Steve Irwin, quando o australiano, conhecido como "caçador de crocodilos", foi atingido no coração por uma arraia e morreu na hora. Philippe foi em frente com o trabalho e apresentou o resto do programa, dedicado ao naturalista australiano.

O californiano de 28 anos não é um estranho no mundo dos apresentadores famosos, nem das pessoas dedicadas à preservação da natureza, nem dos acidentes de percurso. Neto do explorador e cineasta Jacques Cousteau, nunca conheceu o pai, também chamado Philippe, que trabalhava com Jacques e morreu em um acidente de avião em Portugal poucos meses antes de ele nascer, em janeiro de 1980.

Em homenagem ao pai, Philippe e sua irmã três anos mais velha, Alexandra, fundaram em 2000 a ONG EarthEcho International, que tenta buscar soluções para o problema da poluição das águas do planeta, tanto dos rios quanto dos mares.

Philippe é alto e magro, mais interessante do que bonito, tem voz grossa e um discurso sério. "[O mundo] Tem gente demais. E não dá para todos viverem como a classe média na Alemanha ou nos Estados Unidos, o planeta não tem como sustentar isso", ele me diz, empolgado, na sede de sua ONG em Washington. "Mas dá para todo mundo ter água limpa, liberdade, justiça, roupas, um lugar para morar e comida em cima da mesa."

Nascido em Los Angeles (sua mãe, Jan Cousteau, é americana), Philippe passou parte da infância em Paris, parte no Estado de Massachussets, nos EUA. Estudou em colégio interno em New Hampshire, outro Estado americano, e fez faculdade de história na Escócia. "Queria ser bombeiro quando era pequeno", conta. "Mas, quando voltei da primeira expedição que fiz sem nenhum outro membro da família, aos 16 anos, para Papua-Nova Guiné, descobri que queria seguir os passos do meu pai e do meu avô. Acho que herdei a responsabilidade de trabalhar pela conservação do planeta", filosofa, sem pieguice. Estudou história para entender um pouco mais sobre os seres humanos, espécie que ele não acredita que terá a mesma longevidade de seus animais prediletos, os tubarões.

"Sempre torço para os azarões, e tenho ódio da injustiça que filmes como "Tubarão" fizeram com esse bicho. Os tubarões atacam algumas dezenas de pessoas por ano, e os humanos matam milhões de tubarões todos os anos para fazer sopa. Eles é que são perseguidos por nós."

Não fosse interrompido, Philippe seguiria defendendo os tubarões por horas, mas pergunto sobre sua fundação. Ela é o que os americanos chamam de "enabler", habilitadora, que tenta unir pessoas e entidades cujo interesse comum seja salvar as águas do planeta. Um dos projetos, por exemplo, é um submarino miniatura que percorrerá zoológicos e parques de diversão dos EUA e que simula uma viagem ao fundo do mar. A ideia é despertar o interesse das crianças para esse universo, como tentava fazer seu avô com seus documentários exibidos nas TVs do mundo inteiro nos anos 70 e 80. Aproveito para perguntar sobre a relação dos dois. "Não éramos muito próximos porque ele viajava muito. Mas nos encontrávamos algumas vezes por ano, e aí era maravilhoso."

Pergunto se ele é otimista em relação ao futuro. "Meu maior sonho é perder esse emprego. Trabalho desesperadamente para que o mundo não precise de uma fundação como essa. Mas, infelizmente, duvido que isso aconteça."


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