São Paulo, Domingo, 29 de Abril de 2012

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MÚSICA

GRIMES EM SÉRIE

por Adriana Küchler

A cantora pop revelação é canadense, não explica o significado do nome artístico e se inspira em Monjas, Mariah Carey e Enia

Há três anos, a canadense Claire Boucher e seu então namorado, William Gratz, construíram uma casa flutuante. Equiparam o lar aquático com algumas galinhas, dez quilos de batatas e uma máquina de escrever e partiram com o plano de descer o rio Mississippi, de Minneapolis a Nova Orleans. Não foram longe. O motor pifou, a polícia implicou, e as galinhas foram confiscadas.

Quando peço para ela me contar detalhes da aventura, fica nervosa. “Ai, nem gosto de falar sobre isso. As pessoas inventam tanta coisa sobre essa história.” Está ficando tão famosa que inventam boatos a seu respeito? “É... Pode ser.”

Depois da aventura ribeirinha, Claire Boucher, 24, virou cantora e produtora musical, adotou o nome Grimes (A pronúncia é “Graimes”. O significado, ela diz, é segredo”) e é a última sensação entre aqueles que conhecem todas as bandas de que a maioria das pessoas nunca ouviu falar.

MUSA DA INDIESFERA

Foi eleita a nova artista “mais excitante” de 2012 pela revista inglesa “NME” (conhecida como a “bíblia da música independente”) e está na capa de abril da revista fashionista “Dazed & Confused”. Também virou alvo preferido do

Hipster Runoff –o site, que tira sarro dos obcecados por tendências, decretou que Grimes é “a musa atual de toda a indiesfera”.

O leitor que fez cara feia para a descrição do parágrafo anterior deve dar uma segunda chance para a moça, que faz boa música e é muito interessante. Claire começou a produzir seu som quando um amigo a apresentou ao

GarageBand, software musical da Apple. E há até pouco tempo, ela estudava neurobiologia na faculdade.

Suas ideias surgem de uma mistura esquizofrênica dessas paixões: “A minha geração é química e biologicamente diferente da geração anterior. Meu pai tinha pouco acesso a música quando era criança, enquanto eu usava o

Napster e ouvia tudo o que queria imediatamente”.

E arrisca um palpite: ”Gente da minha idade tem muita dificuldade em focar. Por isso, cada álbum meu é de um jeito. Meu som pode ser definido pela minha inabilidade de fazer a mesma coisa por períodos longos”.

PÓS-INTERNET-CYBORG

Ela diz “cada álbum” porque já produziu três em dois anos. “Visions”, recém-lançado, saiu pela gravadora 4AD. Chega em maio ao Brasil e foi chamado de um dos discos “mais impressionantes do ano” pelo “New York Times”. Junto com os elogios, Grimes coleciona rótulos tão exóticos quanto seu visual e seu próprio som: “pós-internet”, “cyborg pop”, “electro-dance psicodélico”.

Suas referências também passam longe do “normal”. Entre as influências ela cita a monja alemã do século 12 Hildegard von Bingen. E Enya. E Mariah Carey.

“Não ligo para os puristas, podem tirar sarro. A Mariah Carey é obviamente uma cantora fantástica. E sou louca pelas técnicas de produção da Enya e pelo ‘overdub’ insano que ela faz.” Overdub é o processo de gravar várias vezes a mesma voz ou o mesmo instrumento numa canção. A cantora Enya chegou a registrar sua voz 500 vezes numa música.

Fissurada pelo processo de produção musical, Grimes passou três semanas trancada no quarto para gravar seu último trabalho (“Minha amiga me trazia comida”). E recentemente começou a interferir também na criação de seus clipes. Num dos mais divertidos, o da música “Oblivion”, aparece em um vestiário cercada por homens sem camisa.

Já no vídeo de “Vanessa”, Grimes torrou todo o orçamento de US$ 60 (R$ 110) em álcool. Mas o clipe não gerou polêmica pela farra econômica, e sim porque foi um dos últimos posts no Facebook de um adolescente que atirou contra colegas em uma escola, em Ohio, no começo do ano.

“Foi foda. Como em Columbine, quando essas coisas acontecem, todo mundo quer achar algo que seja responsável. Culpam um videogame ou um clipe. E eu não quero que a minha música seja associada a uma tragédia como essa.”

Poderíamos passar mais algum tempo aqui colecionando e citando as esquisitices de Grimes (beber óleo de orégano para melhorar a voz, tomar banho “de uma a cinco vezes por semana”, não usar roupas com botões ou zíperes), mas ela boceja. Está com sono.

“Fui dormir às sete da manhã”, confessa, por telefone, da gravadora em Nova York, onde não mora. Eram 12h30 lá. “Estou planejando me mudar para Los Angeles. Por enquanto, vivo num carro.” Num carro onde? “Onde eu estiver.”


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