São Paulo, Domingo, 29 de Abril de 2012

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BICHO

TUTI BOA GENTE

por Fabrício Corsaletti

Tamanduá bebê é a estrela do zoólogico de São Paulo. Passa os dias brincando de cavar buracos e pede colo e carinho à bióloga que cuida dele desde que foi separado da mãe, depois de uma queimada.

Assim que Amanda Alves de Moraes, 28, entra na jaula de Tuti, o tamanduá-mirim salta da caixa onde dorme e corre para abraçá-la. Agarra-lhe a perna, ansioso, pedindo, ao que parece, colo. Amanda o levanta do chão, acaricia sua cabeça dourada, passa a mão sobre a pelagem preta do seu coletinho perfeito.

Depois o devolve ao concreto e faz cócegas em sua barriga. Tuti bufa, se agita –e arranha os braços de Amanda com suas garras futuramente poderosas. Ela pede calma, mas em vão. Tuti se ergue, apoiado nas patas traseiras e na cauda, e se lança mais uma vez em direção à perna da bióloga.

VITÓRIA

Encontrado em setembro de 2011 pela polícia ambiental de Votuporanga após uma queimada, Tuti chegou ao Zoológico de São Paulo com idade estimada de dois meses. “Foi uma vitória ele ter conseguido sobreviver”, diz Amanda.

Explica que tamanduás são animais especialmente apegados à mãe, que permanece na companhia do filhote até que ele aprenda a forragear (procurar alimentos).

Quando ele se torna um caçador competente de cupins e de formigas, mãe e filho vão cada um para um lado e nunca mais se veem. O pai, irresponsável por natureza, está presente apenas no momento da cópula.

Sem sua progenitora para protegê-lo e ensiná-lo a se virar, Tuti sofreu bastante no início. “Era muito carente. Agora, está ótimo.”

Aos oito meses, o pequeno tamanduá passa pelo que os estudiosos chamam de “fase lúdica”. Só quer saber de brincar. O pessoal do zoológico entende, claro, mas nem por isso deixa de ajudá-lo a fazer a transição da infância para a vida adulta, substituindo a mamadeira (de leite sem lactose, frutas, legumes e ração de gato) pela “papa de adulto” (extrato de soja, frutas, legumes e carne).

E cupins. Coletar formigas é difícil. Por isso, os tamanduás em cativeiro acabam comendo mais cupins –9.000 por dia.

NAMORO OU AMIZADE?

Além disso, levam-no com frequência da “creche” para o recinto de exposição, onde passa algumas horas com a Cabeluda, tamanduá-mirim de seis anos, solteira e peluda (daí o seu nome).

Amanda diz que eles estão começando a se acostumar um com o outro e tem esperança de que, mais para a frente, formem um casal. Embora na natureza os tamanduás vivam sozinhos, no zoológico eles costumam dividir seu espaço com um animal do outro sexo.

Mas, por enquanto, Tuti está mais preocupado em cavar buracos, ficar de ponta-cabeça (pendurado pela cauda pênsil) e fingir que luta contra um predador do que com romance.

Considerando que tamanduás são seres metódicos, que ficam nervosos com qualquer mudança brusca na rotina, é bem capaz que ele precise de um bom tempo para aceitar a ideia de ter uma namorada.

QUE A CABELUDA TENHA PACIÊNCIA.


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