São Paulo, Domingo, 29 de Abril de 2012

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ESPORTE

EZABELLITA DE PATINS

por Fernanda Ezabella, de Toronto

Repórter vai à copa do mundo de “Roller Derby”, esporte vintage que renasce como estilo de vida nos EUA e no Brasil

Uma sueca, duas suecas, três suecas... Na hora de ultrapassar a quarta, sou atingida, voo na curva e caio aos pés de um espectador. Ele sorri assustado. Me certifico de que não morri e me levanto nos patins. O placar indica mais 45 segundos e volto a correr como se não houvesse amanhã. Um paredão de loiras gigantes tenta me acertar, pulo para o lado e recomeço a contagem: uma sueca, duas suecas... Placar final: 163 a 30. Para elas.

Meu pesadelo “viking” aconteceu em dezembro. E foi apenas a primeira de seis derrotas que sofri em três dias, com minhas colegas da seleção brasileira, na primeira Copa do Mundo de Roller Derby, em Toronto, no Canadá. Nunca tinha participado de um jogo oficial, assim como a maioria do time.

E como fomos parar lá? O “roller derby” é mais do que um esporte amador, ainda que seja um dos que mais crescem no mundo. É um estilo de vida, uma comunidade faça-você-mesmo, um vício, enfim.

SEM BOLAS

O “roller derby” atual foi praticamente criado do zero, entre 2001 e 2003, por garotas de Austin, no Texas. É bom dizer logo que não há bola (a pergunta mais feita por não iniciados). Cada time coloca em campo quatro bloqueadoras e uma “jammer”, espécie de atacante.

O objetivo é que a “jammer” ultrapasse as bloqueadoras adversárias, patinando numa pista oval. Cada ultrapassagem vale um ponto, e o jogo dura uma hora. Não vale cotovelada nem empurrão. Mesmo assim, a gente fica com cada roxo...

O esporte tem origem no final do século 19, a partir de maratonas de patins. Nos anos 1930, ganhou formato de jogo e chegou ao auge em 1950, com transmissões pela TV. Nos anos seguintes, passou por mutações até morrer nos anos 1970, numa mistura decadente de luta livre e corrida.

Hoje, o esporte é repleto de regras novas e muitos juízes em campo. Ao contrário das encarnações anteriores, o “roller derby” de hoje é liderado por mulheres. Mas há ainda um gostinho teatral, embora secundário, com muitas jogadoras de meia arrastão, maquiagens extravagantes e apelidos muitas vezes impublicáveis.

Foi fazendo uma reportagem sobre o filme “Garota Fantástica” (2009), de Drew Barrymore, responsável por espalhar a febre do “derby” mundo afora, que fui parar na sede da Los Angeles Dolls, num galpão no centro da cidade com cara de balada ilegal.

Fundada em 2003, a liga tem 150 patinadoras, quatro times e funciona como a maioria das outras 1.200 associações espalhadas pelo mundo (há dois anos, eram 600): com trabalho voluntário. Além de treinar três ou quatro vezes por semana, faço parte de um comitê e, nos dias de jogo, trabalho na bilheteria ou na limpeza.

“Podem me chamar de utópico, mas acho que a falta de proprietários plutocráticos e de participantes milionários mimados é uma grande atração do esporte”, diz Chris Seale, presidente do site Derby News Network, que transmite ao vivo dezenas de jogos por mês.

O pico de audiência foi na final da Copa do Mundo, com 7.300 aparelhos ligados simultaneamente na partida EUA x Canadá (336 x 33). As americanas ganharam todos os jogos de lavada, e nós conseguimos apenas um pequeno prêmio de consolação: na tabela final, pelo saldo de pontos, ficamos na frente das queridas argentinas, em 12º lugar.


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