São Paulo, Domingo, 29 de Abril de 2012

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DANÇA

JOGO DE CENA

por Gustavo Fioratti

Agitadora cultural do movimento hip hop, Roberta Estrela D'Alva circula entre o teatro, o humor, o break, a academia e a competição de poetas do rap.

Desde que ganhou fôlego, nos anos 1990, o movimento hip hop paulistano revelou suas estrelas no campo da música, nas artes visuais e na literatura. Só na última década as artes cênicas começaram a lançar nomes nesse cenário, entre eles o de Roberta Estrela D’Alva, 34, atriz do grupo Núcleo Bartolomeu de Depoimentos.

Quando Roberta entra em cena, entram com força também algumas de suas características mais marcantes: a voz grave, a intensidade e os dreads que chegam quase até a cintura. Os olhos são sempre bem maquiados.

A atriz ganhou o prêmio Shell este ano por sua atuação em “Orfeu Mestiço”, espetáculo sobre a ditadura que faz uso de ferramentas multimídias e referências do movimento hip hop. A arte de rua, o break e as rodas de rap correm pelas veias da atriz.

Ela nasceu em Diadema e passou a infância em São Bernardo, em um bairro de metalúrgicos. Na escola, aos 14 anos, subiu pela primeira vez ao palco, no papel de um veado fêmea abatido em cena. “Com direito a muito sangue de groselha”, ri. Até então, era conhecida por seu nome de batismo, Roberta Marques do Nascimento. Nesse espetáculo, uma amiga a rebatizou.

NASCE UMA ESTRELA

Quando entrou na faculdade de artes cênicas da ECA-USP, já tinha nome artístico e também já freqüentava os principais bailes de hip hop da Vila Madalena, zona oeste de São Paulo. Ganhava um troco fazendo performances cômicas em um bar chamado Beverly Hills.

Antes de concluir os estudos, conheceu uma veterana do teatro paulistano, a atriz e diretora Claudia Schapira, interessada em formar um grupo que fundisse artes cênicas e cultura hip hop. Roberta passou por um teste e entrou para o então recém-criado Núcleo Bartolomeu. Começou como atriz, depois dirigiu peças. E virou agitadora cultural.

Com a determinação herdada do pai –um velejador de 62 anos que concluiu, no começo do ano, uma volta solitária ao redor do mundo–, passou a estudar o hip hop a fundo. Hoje, desenvolve pesquisa no programa de Comunicação e Semiótica da PUC-SP sobre a poética de MCs. Dedica-se ainda a uma modalidade pouco conhecida em São Paulo: o “slam”, jogo que surgiu no mundo do rap.

GUERRA DE RIMAS

“Slam” é uma competição entre poetas. Criada em Nova York, ganhou campo em países da África e da Europa. Roberta promoveu a primeira edição paulista, há dois anos, na sede do seu grupo de hip hop, o Bartolomeu, em evento mensal chamado “Zap” (o próximo acontece dia 10 de maio —Rua Dr. Augusto de Mirada, 786, Pompéia, SP. Tel. 3803-9396).

O jogo tem regras: o júri é formado por pessoas da plateia, que levantam placas atribuindo notas a cada performance.

Roberta participou, no ano passado, da principal delas edição internacional, a Coupe Du Monde, em Paris. Pegou terceiro lugar. “Chorei, deu raiva, depois passou”, diz.

Em São Paulo, houve edições parcas, como a última, só com 15 pessoas. E houve, com mais frequência, encontros calorosos. Platéias animadas vaiavam poesias ruins e jurados malvados. Os vencedores ganham livros.

“É uma maneira de parar e escutar quem quer falar alguma coisa”, explica. Qualquer pessoa pode participar. Valendo de zero a dez.


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