São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2011 |
| ||
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CAPA Natalie PortmanAVIS RARA por FERNANDA EZABELLA, de Los Angeles 2011 é o ano de Natalie Portman: grávida, a atriz formada em psicologia em harvard tem tudo para levar o oscar por "Cisne Negro" "Aparelhos de tortura". É assim que Natalie Portman descreve as sapatilhas de ponta que usou durante mais de um ano, em treinos diários, quando deixou de sair com os amigos, parou de beber e passou a comer o mínimo possível. Tudo em nome de "Cisne Negro", filme que já lhe rendeu um Globo de Ouro e sua segunda indicação ao Oscar, além dos melhores elogios de sua carreira. "A disciplina física ajudou a construir o lado emocional da personagem. Você só percebe o sentido desta vida de estilo meio monástico quando a pratica", diz a atriz à Serafina. "Seu corpo passa por dores extremas constantemente. Passei a entender melhor esse tipo de processo de autoflagelo do bailarino." No longa do cineasta Darren Aronofsky ("Réquiem para um Sonho", de 2000, e "O Lutador", de 2008), ela é Nina, uma dançarina insegura e ingênua, porém perfeccionista, escolhida para fazer o papel duplo de "O Lago dos Cisnes": o inocente cisne branco e o vilão sedutor cisne negro. Sufocada pela mãe protetora (Barbara Hershey) e instigada pelo coreógrafo tarado (Vincent Cassel), ela tem surtos delirantes durante os ensaios. E, num desses devaneios, vem uma das cenas mais comentadas dos últimos meses, na sua cama de menina, com uma bailarina da companhia de dança (Mila Kunis), após um porre monumental que as duas tomam juntas em bares de Nova York. "Não discutimos antes de filmar aquela cena. Ficamos amigas durante a produção e isso certamente facilitou. Seja homem ou mulher, cenas de sexo são iguais", conta Kunis. A fragilidade de Portman, magérrima e com menos de 1,60 metro de altura, faz suar o espectador na cadeira do cinema, ainda mais quando a história toma um rumo inusitado e vira um filme de terror. O tour de force de Nina é vibrante. Mas não foram só elogios e prêmios que fizeram valer o sacrifício dos treinos extremos, que incluíram também 1,5 km de natação diária para tonificar os músculos e 15 horas de trabalho nos 40 dias de filmagem. Portman, 29, conheceu nos sets o francês Benjamin Millepied, 33, de quem está noiva e grávida de quatro meses. Ele é coreógrafo e ator do filme, assim como principal bailarino da New York City Ballet, onde se passa a trama de "Cisne Negro". Os dois moram juntos em Nova York, e o casamento deve acontecer neste ano, apesar do veneno das revistas de fofoca, que consideram o francês um mulherengo bastante ambicioso. O lado caxias da personagem Nina encontra certa ressonância em Portman. A atriz fez balé até os 12 anos, quando praticava duas ou três horas por dia, mas parou para se dedicar à escola e às aulas de atuação. "Não sou uma perfeccionista, mas gosto de disciplina", diz Portman, vegetariana rigorosa desde os oito anos. Não usa sapatos de couro nem jóias vindas de países em conflito. Sua estilista favorita é Stella McCartney. Leitora voraz, Portman costuma levar dezenas de livros para os sets de filmagens. Mergulhou em biografias de gente do mundo da dança para construir sua personagem. Ela é também formada em psicologia em Harvard, o que ajudou a entender melhor as manias de Nina. "Nina é de fato um caso de algo que estudei na faculdade", comenta a atriz, rindo. "Ela tem um comportamento obsessivo-compulsivo, este seria meu diagnóstico. Balé realmente se presta a isso, tem um sentido de ritual. Só mesmo anos e anos de terapia." SUPERPROTEGIDA
Filha única, foi descoberta por um caça-talentos aos nove anos em uma pizzaria. Ganhou um agente e fez seu primeiro longa aos 11 anos. Assim como Nina, também é superprotegida pelos pais. Chegou a dizer não para papéis importantes depois do assédio criado pelo sucesso de "O Profissional". Ela só podia participar de eventos para dar autógrafos para crianças e deixou de estrelar "Lolita" (1997) e "Havana Nights" (2004), sequência do seu filme preferido de adolescência, "Dirty Dancing - Ritmo Quente" (1987). "Me apaixonei por Natalie desde aquele primeiro filme, com ela pequena", lembra o diretor. "Desde aquela época queria fazer um filme com ela." O mesmo aconteceu com outros diretores famosos, como Woody Allen e Tim Burton, que a escalaram para papéis menores nos respectivos "Todos Dizem Eu te Amo" e "Marte Ataca!", ambos de 1996. Mas, enquanto atores mirins iam tentar a vida em Hollywood, ela deixou as bonecas Barbie em casa e foi para Boston, terminar os estudos de quatro anos em Harvard. Entre umas férias e outras, filmou a trilogia "Guerra nas Estrelas", como a rainha Amídala, embora tenha perdido a pré-estreia do primeiro longa porque tinha que estudar para uma prova. "A universidade me ensinou como eu era capaz de trabalhar duro. Na primeira semana eles te dão uma lista de coisas para ler, tipo mil páginas em quatro dias", disse Portman. "Meu estômago embrulhava, mas percebi que conseguiria dar conta." De fato, Portman não é uma atriz padrão. E, apesar de algumas comédias açucaradas esquecíveis, a atriz passou a fazer escolhas arriscadas nos anos 2000. Como quando raspou a cabeça para interpretar uma terrorista em "V de Vingança" (2006) ou quando tirou (quase) toda a roupa para ser uma stripper em "Closer - Perto Demais" (2004), com Julia Roberts, Clive Owens e Jude Law, que rendeu uma indicação ao Oscar de atriz coadjuvante. Aqui, mais uma vez, ela resolveu evitar o burburinho da mídia e se mandou para Jerusalém, onde estudou hebraico, árabe e história durante seis meses na Hebrew University. Também aproveitou para filmar outro independente, "Free Zone" (2005), de Amos Gitai, na fronteira entre Israel e Jordânia. Portman já declarou que, apesar de ter cidadania americana, seu coração está mesmo em Israel. Ela costuma ler o jornal Haaretz, já disse que gostaria de fazer um filme baseado num livro de Amos Oz e defende o exército do país, apesar de não ter se alistado (o exército é obrigatório para residentes). "Eu não poderia fazer isto. Mas, no mundo em que vivemos, em certos países, você não pode deixar de ter um exército", diz ela. "Obviamente estou me referindo a Israel. Se Israel não tivesse um exército, o país não existiria." Nos próximos meses, ganhe ou não o Oscar, Portman chegará aos cinemas brasileiros como uma avalanche, em quatro lançamentos. Além de "Cisne Negro", em 4 de fevereiro, está na comédia "Sexo sem Compromisso" (25/02), na adaptação de HQ "Thor" (29/04) e na comédia histórica "Your Highness" (prevista para agosto). "Amo a sensação de explorar, tentar coisas diferentes", diz, com um sorriso perfeito. "Meu critério para escolher trabalhos é fazer coisas que nunca fiz e também com as quais possa me identificar. E, claro, tem que ser divertido." Experiência Visceral, por Ricardo Calil Não falta imaginação visual ao diretor, seja para os delírios da protagonista, seja para os ensaios do balé -filmados com câmera na mão quase colada a Natalie Portman, como se ele estivesse documentando uma batalha sangrenta, não uma dança etérea. Mas Aronofsky não tem muita sutileza psicológica. O filme bate tantas vezes na tecla de que Nina Sayers (Portman) precisa se entregar ao lado negro da força, que podemos confundi-la em algum momento com Luke Skywalker. E o fato de ela ser filha de uma bailarina frustrada é quase um capítulo de "Freud for Dummies". Mas há Natalie Portman para compensar. Ao contrário de Nina, ela se joga sem medo no inferno da personagem que representa; em seu rosto, há o virginal e o demoníaco. É Portman quem transforma "Cisne Negro" em uma experiência visceral. Um Oscar de melhor atriz estaria em boas mãos. Escolhas nada óbvias
"O Profissional" (1994), de Luc Besson
Moby
"Guerra nas Estrelas, episódios I, II e III" (1999-2005), de George Lucas
Gael García Bernal
"Closer - Perto Demais" (2004), de Mike Nichols
Jake Gyllenhaal
Devendra Banhart
"Um Beijo Roubado" (2007), de Wong Kar-Wai
Texto Anterior: ÍCONE: O carrão do presidente bossa nova foi todo restaurado, por Fred Melo Paiva
Próximo Texto: GASTRONOMIA: O jornalista vai ao Peru e experimenta várias receitas do prato da moda, por Zeca Camargo
|
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É Proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou imPresso, sem autorização escrita da Folhapress. |