São Paulo, domingo, 30 de Outubro de 2011

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IN LOCO

design na Veia

Por Mara Gama, de Helsinque

Helsinque será a capital mundial do design em 2012. A capital finlandesa comemora de maneira simples, prática e econômica, mesmas qualidades que norteiam o design de lá

Uma visita a Helsinque mostra que o design está no dia a dia dos finlandeses. E não é de hoje. Desde os anos 1930, a produção de objetos para melhorar a vida das pessoas é vista como vetor do desenvolvimento do país.

Praticidade máxima, simplicidade e economia são qualidades evidentes nas ruas, parques, edifícios, trens, roupas e objetos.

Em 2012, a cidade vai colocar a lupa sobre a herança dos pioneiros e novas práticas do design, quando Helsinque recebe o título de capital mundial do design, dado a cada dois anos pela ONG Icsid (Conselho Internacional das Sociedades de Design Industrial).

Mas não se deve esperar escândalo de marketing ou pirotecnia arquitetônica, como acontece em copas e Olimpíadas pelo mundo. Na hora de celebrar, os finlandeses vão seguir o tema do Helsinque Capital Mundial do Design 2012, "Embedding Design in Life" (algo como design incorporado à vida). Na prática, significa que a maior parte das novidades têm como objetivo tornar melhor o cotidiano da cidade.

Um exemplo é o plano para redesenho da área portuária sul. Um concurso internacional foi feito para reurbanizar a região e conectá-la ao centro histórico, por vias para pedestres e ciclovias, sem prejudicar a vista para o mar. Outro marco no cenário urbano é a nova biblioteca da Universidade, que vai reunir 13 bibliotecas de faculdades num lugar só, no centro, e facilitar o acesso aos arquivos digitais. O prédio, erguido no local de uma antiga garagem com projeto do estúdio Anttinen Oiva, tem um grande bloco sinuoso, mas não perde de vista a escala humana e não canibaliza o local -sua altura é como a dos edifícios do entorno, oito andares no máximo.

Durante o ano, estão programadas também mostras históricas sobre os precursores do design finlandês e expoentes atuais, como a Nokia.

A história

O design passou a ser visto como valor social e econômico do país a partir dos anos 1930. Já naquela época, as vidrarias finlandesas começaram a fazer concursos para incentivar inovação. Entre 1933 e 1936, o mobiliário de madeira compensada curvada e o vidro savoy em formato de ameba desenhados pelo representante da arquitetura finlandesa mais famoso, Alvar Aalto (1898-1976), tiveram grande repercussão na Trienale de Milão.

Depois da guerra, nos anos 1950, houve um boom da construção de moradia nas áreas urbanas. Os novos apartamentos pediam objetos pequenos, duráveis e baratos.

Foi para atender essa demanda que trabalhou outro ícone do design finlandês, Kaj Franck (1911-1989), na cerâmica Arabia, hoje Iittala. Ele desenvolveu formatos combináveis e empilháveis para a louça, em pratos e travessas triangulares, retangulares e cuias.

Também nos anos 1950, começou a funcionar a mais importante estamparia finlandesa. Chefiada pela primeira executiva do país, Armi Ratia, a marca Marimekko -literalmente "vestido de Mari", suas cores vibrantes e desenhos generosos viraram parte da identidade nacional.

Alimentada hoje por contribuições de novos designers, a Marimekko não deixa de lado a sua história e reimprime, de tempos em tempos, motivos antigos, no original ou com alterações de cores e escala. Em sua fábrica, nos enormes rolos de algodão já estampados podem ser vistos lado a lado temas orgânicos e geométricos, desenhos tradicionais étnicos e distorções de grafismos. A integração entre design e indústria marca a economia e tem reflexos no ensino. A universidade Aalto, uma das mais prestigiosas, tem um currículo voltado para a inovação e a competitividade e seus alunos frequentam cursos nas faculdades de arte e design, economia e tecnologia.

Para divulgar o ano do design e trocar experiências com escolas e empresas, chega ao Brasil em dezembro de 2011 um grupo de cem estudantes da universidade Aalto. A expedição Aalto on Waves sai de Lisboa num navio e aporta no Rio. Aqui no Brasil, os alunos querem ver na prática como é possível melhorar a vida das pessoas através do design.


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