São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 2010

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TERETETÉ

Nick Hornby, o escritor inglês da música pop e das emoções masculinas, adota ponto de vista feminino

por TETÉ RIBEIRO, em Toronto

NICK HORNBY

Ícone da literatura pop, o autor inglês põe de molho os dramas masculinos e muda a chave para o olhar feminino em livro e filme que lança neste ano

O escritor inglês de romances pop tem quase sempre um homem, ou um menino, ou um homem e um menino no centro de suas histórias. E alguma ligação com música. Ou esporte. Foi assim em "Alta Fidelidade", "Um Grande Garoto" e "Febre de Bola", seus livros mais conhecidos e que viraram fi lmes na última década. Neste ano, no entanto, o escritor e roteirista se aventura com mulheres nos papéis principais. No filme "Educação", com direção da dinamarquesa Lone Scherfi g e estreia no Brasil prometida para 19 de fevereiro, a protagonista é Jenny, uma garota de 16 anos que se envolve com um homem mais velho nos anos 1960. E, no novo livro do autor, "Juliet, Nua e Crua", com lançamento brasileiro programado para este ano, a personagem principal é Annie, namorada do fã de um roqueiro decadente. Nick Hornby falou com Serafina no festival de cinema de Toronto, em setembro.

O que o fez querer transformar o conto que deu origem a "Educação" em filme?
Li o conto na revista literária "Granta" e adorei. Mostrei para a minha mulher, que é produtora de cinema, e disse que daria um bom filme. Não tinha pensado em adaptar. Ela gostou da ideia, mas assim que começou a falar sobre possíveis roteiristas, percebi que estava com muito ciúme. Aí, secretamente escrevi um tratamento, que é como se chama um roteiro que não está no formato final. Por sorte ela gostou do que leu e ainda não tinha se comprometido com ninguém, então seguimos adiante.

Qual é, para você, o grande atrativo
dessa história?
Gosto de tramas simples. E a história de uma garota inteligente e esperta que se apaixona por um homem mais velho é universal. Jenny, a personagem principal, é muito a tradução de um fenômeno dos anos 1960 na Inglaterra, antes de o país ter virado o centro das atenções pop, quando parecia que tudo o que era interessante acontecia em outro lugar.

Esse é seu primeiro trabalho que não se passa no presente, e você é conhecido por botar rapidamente em livros coisas que estão começando a acontecer no mundo.
Isso e música pop são meus dois "karmas" (risos).
Não tinha pensado que seria tão desafiador contar uma história em outra época, e me senti muito inseguro a respeito de cada frase durante a adaptação. Tive que investigar o surgimento de várias palavras, como "preggers", gíria para "pregnant" (grávida), criada pelos tabloides da Inglaterra mais ou menos em 1962. Tive vários desses microdraminhas, não sabia se o termo "dormir com tal pessoa" já era usado como eufemismo para sexo ou não.

E a que conclusão chegou a respeito dos anos 1960?
Acho que todas as épocas são mais parecidas com os tempos atuais do que a gente imagina. Temos mania de acreditar que os Beatles e Woodstock mudaram o mundo, e provavelmente mudaram em relação aos anos imediatamente anteriores, mas talvez tenham trazido as coisas para o jeito que eram na época da rainha Victoria (risos).
Estou lendo um livro chamado "Scenes From Provincial Lives", do romancista inglês William Cooper. Foi escrito nos anos 1950, a história se passa em 1939 e as atitudes dos personagens são completamente contemporâneas. Em um momento, dois amigos alugam um chalé no campo para ter um lugar para transar com suas amantes, e não há nenhum julgamento moral entre eles, a única questão é quem vai usar o chalé em qual fi m de semana. As pessoas acham que sexo foi inventado nos anos 1960. É a mesma coisa com drogas e festas.

Deu vontade de escrever mais roteiros e menos livros?
Não, esta é uma exceção na minha carreira. Vou continuar com meus livros. O problema com roteiros é que não importa o quão bom eles sejam, você tem mais ou menos 10% de chance de um deles realmente virar um filme. É tudo demorado e complicado. E, com livros, a esta altura da minha carreira, mesmo que eu escreva um apenas OK, vai ser publicado e bastante gente vai ler. Não tem mais nenhuma barreira.

Mas os filmes baseados em seus livros são super bem-sucedidos. Por que ainda existem tantas barreiras?
Porque cinema é uma indústria e fazer um filme é muito caro, os riscos são altos. Quando "Educação" ficou pronto, fizemos uma apresentação e convidei uma executiva da BBC Filmes que tinha dado muita força para o projeto, mas quando o filme fi cou pronto, ela já tinha mudado de emprego. Perguntei o que ela estava fazendo e ela disse: "Continuo sendo a oficial que previne que os filmes sejam produzidos, mas agora em outro estúdio" (risos). Acho um milagre cada vez que um filme consegue ser feito. Não tenho a menor vontade de ficar esperando por um milagre cada vez que termino um trabalho.

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