São Paulo, domingo, 31 de maio de 2009

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NO RIO

O Segredo da pedra

por HELOISA SEIXAS

Instituto Cravo Albin, uma surpresa no morro da Urca

Dizem que a melhor maneira de esconder uma árvore é levá-la para dentro da floresta. Deve ser por isso que o Instituto Cravo Albin, colado a um dos maiores cartões-postais da cidade –o Pão de Açúcar–, é ainda pouco conhecido entre cariocas e turistas. Principalmente entre turistas. Mas essa beleza secreta talvez seja também o maior charme do lugar. Visitá-lo é uma surpresa visual atrás da outra.

O prédio onde fica o instituto, bem no começo da avenida São Sebastião, na Urca –atrás do antigo Cassino, agora transformado no Instituto Europeu de Design– tem aparência simples, despretensiosa. Tomando o elevador e chegando ao 4º andar (as visitas são guiadas, sempre às terças-feiras), o visitante dá num belo apartamento de cobertura, repleto de obras de arte de todos os tipos, com terraço coberto de onde se descortina aquela vista estonteante: a pequena praia da Urca, a enseada de Botafogo com seus barquinhos e as montanhas ao fundo. E, ainda, as ruas de casas e prédios baixos, com as copas das amendoeiras formando tapetes verdes entre os telhados.

Mas isso é apenas o começo. O encanto maior começa quando atravessamos uma espécie de passarela e subimos uma escadaria que nos leva encosta acima. Ali, atrás do prédio, escavado na pedra do Morro da Urca, há um platô cercado de árvores, com mirante e piscina oval. E –surpresa das surpresas –uma casa em estilo colonial, de dois andares, com janelas de treliças e sacadas de ferro trabalhado. Ou seja: o que temos não é um apartamento dentro de uma casa, que seria normal, mas uma casa dentro de um apartamento. Ou, pelo menos, oculta atrás dele.

Acervo Musical

A casa, feita com material de demolição, foi construída em 1962 pelo decorador Julio Senna, então proprietário do apartamento. É a réplica de um casarão histórico que ficava onde hoje é a Biblioteca Nacional, na Cinelândia, no então chamado largo da Mãe do Bispo. Na casa original, morou, durante sua vida inteira –de 1731 e 1805–, a mãe do bispo José Joaquim Castelo Branco (daí o nome do largo, claro). Essa mulher, que se chamava Ana Teodoro, era figura influente no Rio colonial.

Ao construir a réplica na encosta do morro, Senna talvez não imaginasse que um dia o imóvel seria aberto à visitação. Mas a propriedade passou às mãos de Ricardo Cravo Albin, um dos fundadores do Museu da Imagem do Som, e acabou se transformando em patrimônio público, com a criação do instituto. Esse, além da incrível localização, tem acervo aberto a consultas, incluindo fotografias, revistas, roteiros de espetáculos musicais, partituras originais e uma coleção de mais de 30 mil discos antigos. Estão expostos no instituto não só obras de arte, mas também objetos que pertenceram a estrelas do cenário musical brasileiro, como os chapéus de Pixinguinha, Tom Jobim e Moreira da Silva, e um par de sapatos de Carmen Miranda.

Desde 2007, realizaram-se lá vários saraus, com a participação de artistas como Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ivan Lins, Edu Lobo, Marcos Valle, Francis Hime, João Bosco, João Donato e muitos outros. Detalhe: durante os saraus no casarão, é ligada uma cascata artificial, cujas águas descem pela encosta do morro da Urca. É apenas mais um segredo da pedra.



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