São Paulo, domingo, 31 de Julho de 2011

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RECORTE V

por Vivian Whiteman

O Fino da áfrica

ABRAM ALAS, FASHIONISTAS, A ÁFRICA DO SUL QUER LANÇAR UMAS ?IDEIAS POR MEIO DA MODA, E ELES TÊM MUITO, MAS MUITO, A DIZER


A África do Sul quer falar e encontrou na moda um canal para divulgar suas ideias mundo afora. Pra começar, o país não quer mais ser conhecido somente como a terra dos safáris e dos passeios entre tribos isoladas e animais exóticos.

O regime de segregação do apartheid terminou, mas as feridas deixadas por anos de preconceito oficializado só agora começam a vir à tona. Isso se reflete nas relações entre as pessoas e em seus hábitos e costumes. Talvez por isso, as semanas de moda sul-africanas comecem a ganhar força.

Neste mês, acompanhei a Semana de Moda da Cidade do Cabo. Com boa infraestrutura e patrocinadores de peso, como a grife de cosméticos MAC, a fashion week local dá seus primeiros passos em termos de estilo, embora já tenha um estilista-estrela e algumas marcas comercialmente bem-sucedidas.

David Tlale é o grande talento de lá. Já desfilou em Nova York e Paris e gosta de usar pontos inusitados da Cidade do Cabo para suas apresentações. A próxima será no topo da famosa Table Mountain, o Pão de Açúcar local, com uma das vistas mais deslumbrantes do mundo. Ele quer mais é babado.

Grifes como Fabiani e ?Carducci representam o lado comercial com solidez, especialmente na alfaiataria masculina -colorida e bem cortada.

A influência dos ingleses é clara na passarela. Em alguns momentos, se sobrepõe às referências da cultura nativa, abafando as tradições da maioria negra -movimento que reflete a realidade de dominação que o país atravessou durante tantas décadas.

A coisa fica interessante quando as grifes, como faz ?David Tlale, conseguem pensar essa relação como um embate ainda em curso. A briga fica boa quando a parte antes vitimizada assume a dianteira e, com ironia, mostra que chegou a hora de mudar essa equação.

A moda da África do Sul não quer se europeizar nem cair nos clichês do "continente exótico". É da tensão permanente, aquela que faz parte do dia a dia do país, que emergirá a mensagem visual autêntica que eles estão buscando. Apesar de todas as diferenças históricas, esse impasse é similar ao da moda brasileira, em sua eterna briga entre a tendência importada e os clichês nacionais.

Nas ruas, nos restaurantes e no comércio da charmosérrima Cidade do Cabo (um Rio de Janeiro menos lotado, mas com o mesmo grau de beleza natural e excelente infra turística), o diálogo entre grifes internacionais e o pequeno comércio local também reflete essa dualidade.

Shopping centers poderosos dividem espaço com as feirinhas onde são vendidas lindezas como as famosas pulseiras de cobre do país, os acessórios de miçangas e belas peças feitas de ossos e de conchas. Há também todo tipo de coisa estampada com o rosto sorridente de Mandela, o herói nacional, belamente incorporado a bonés, camisas e tênis, no melhor estilo pop Andy Warhol.


A jornalista viajou a convite da South African Airlines e da South African Tourism

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