São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

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Uma questão política

da enviada especial

Referência intelectual no Brasil, o economista, pesquisador e professor universitário Paul Singer, 72, é um dos responsáveis pela definição do conceito de economia solidária no país. Em 2003, assumiu a Secretaria Nacional de Economia Solidária, órgão vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego. Seu desafio hoje é regulamentar a atividade dos empreendimentos solidários, aproximando os produtores de empresários e consumidores. (LN)
 

Sinapse - Como é transpor para a prática a teoria que o sr. ajudou a construir?
Paul Singer -
A prática da economia solidária não está na secretaria. Ela acontece espontaneamente no Brasil, cada vez com mais intensidade. Nosso papel é dar apoio sem interferir nesse processo. Estamos formando pessoas para trabalhar nesse segmento e já firmamos parcerias com outros ministérios para ações em comum. Há um programa de fechamento dos manicômios, por exemplo, que visa reintegrar os internos à sociedade. São 500 mil pessoas excluídas do mercado de trabalho. Em conjunto com o Ministério da Saúde e com o auxílio de ONGs, estamos estimulando a criação de cooperativas entre os ex-internos. Isso vale também para outros excluídos do mercado, como deficientes físicos e ex-presidiários.

Sinapse - A secretaria pretende regulamentar as atividades de economia solidária?
Singer -
Sim, mas as posições não são unânimes. Uma parte do movimento realmente quer uma legislação nova para atender a economia solidária, outra parte gostaria de aproveitar a legislação que já existe para o cooperativismo, mas que está em reformulação. Não é perfeita, mas já melhoraria bem a situação. E não estamos falando apenas em estabelecer direitos trabalhistas. É importante também criar mecanismos legais que garantam o acesso das cooperativas ao mercado.

Sinapse - Essa proposta encontra apoio no grupo dos empresários?
Singer -
É possível e já é real. Nós temos, hoje, no Brasil, cerca de 20 mil empreendimentos solidários, e todos se relacionam com empresas capitalistas. Não há a menor dúvida de que, entre empreendimentos convencionais e solidários, há relações comerciais e financeiras. Nenhuma empresa capitalista vai deixar de comprar algum produto com o qual ela vai ganhar dinheiro porque ele vem de um empreendimento solidário.


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