São Paulo, terça-feira, 26 de julho de 2005

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A babel que funciona

Alunos da escola de educação infantil e fundamental Jesse Ketchum, em Toronto, no Canadá

Antônio Gois
enviado especial ao Canadá

A escola de educação infantil e fundamental Jesse Ketchum, no Canadá, pode ser considerada uma torre de babel que deu certo. Numa cidade extremamente multirracial como Toronto, é comum ver alunos de diferentes origens étnicas convivendo em quase todos os colégios. Na Jesse Ketchum, no entanto, essa diversidade é ainda mais evidente. Localizada no centro da cidade, em uma área não-residencial, ela atrai pais de diferentes origens e classes sociais por ficar próxima ao local de trabalho. Isso faz com que a escola tenha de se preparar para receber todo tipo de aluno -de chineses recém-chegados ao país e que nunca falaram inglês a filhos da elite canadense. Uma má educação poderia transformar tanta diversidade em um problema, uma vez que qualquer professor sabe que é muito mais cômodo ensinar uma turma homogênea do ponto de vista socioeconômico do que lidar com diferenças de classes, raças e religiões. Ali, no entanto, essa diversidade é vista como motivo de orgulho. A primeira receita para que essa pequena babel funcione é tentar reproduzir no corpo docente a diversidade que há entre os alunos: a diretora Lynda Perez é marroquina, a vice-diretora é chinesa, o inspetor, turco, o administrador, japonês. Entre imigrantes e seus filhos, o corpo docente representa também países como Grécia, Itália, Trinidad e Tobago, Polônia e, obviamente, Canadá. Lynda estima que a escola tenha, ao todo, "cerca de 50 grupos linguísticos diferentes". A Jesse Ketchum segue à risca a lição de que a participação dos pais é fundamental. No entanto, num local que a todo momento recebe novos alunos, essa participação precisa ser mais efetiva. A escola não espera que os pais a procurem. "Assim que matriculamos um novo aluno, chamamos os pais para explicar como funciona nosso currículo e dizer o que esperar do estudante." Tanto esforço nem sempre é necessário. Lynda conta que é comum ver pais de crianças asiáticas assistindo às aulas pela janela: querem saber se seus filhos estão estudando. Outro aspecto essencial em um ambiente assim é garantir que haja respeito à diversidade. Esse é, sem dúvida, um valor que pode fazer a diferença para quem migra para o Canadá. O país têm dois idiomas oficiais, inglês e francês, e tenta contemplar as diferenças entre suas dez províncias e três territórios dando autonomia às regiões. A escola Jesse Ketchum mostra justamente que a diversidade numa sociedade deve ser trabalhada desde cedo, não apenas na teoria. Como diz Lynda: "Educamos os alunos para celebrar nossas diferenças".


Antônio Gois visitou o Canadá a convite do governo daquele país


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