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educação
Três propostas para o próximo minuto
Desenvolvidos em países com realidades socioculturais e econômicas distintas, três projetos mostram como promover mudanças imediatas na escola sem gastar dinheiro.
Na Suécia, educadores ensinam meninos a "fazer coisas de meninas" e vice-versa. No Canadá, uma diretora lida com o desafio de coordenar professores e alunos de mais de 50 países diferentes. E, em Israel, um projeto de educação democrática vence a burocracia e conquista o sistema de ensino
Em pé de igualdade
Projeto desenvolvido em pré-escolas na Suécia propõe estímulos às habilidades infantis com atividades que tratam da mesma forma alunos de ambos os sexos
Dinah Feldman
colaboração para a Folha, de Gävle (Suécia)
Professores tratam de maneira diferente meninos e meninas?
Essa foi a pergunta que, nove anos atrás, motivou um grupo de
educadores suecos a pensar em uma nova abordagem pedagógica. O primeiro passo foi filmar a equipe da pré-escola Björntomten/Tittmyran, em Gävle. O resultado surpreendeu a todos: ao observar como as professoras lidavam com as crianças, o grupo constatou que esse tratamento reforçava a diferença entre os sexos.
Ao vestir as crianças para brincar ao ar livre, a professora dizia para
o menino: "Se apresse, nós vamos sair já!". E para a menina: "Coloque
seu casaco. Foi sua avó quem o fez?". "Os educadores pensavam tratar
as crianças de forma igual, mas viram que, de fato, agiam de forma a
consolidar o padrão da desigualdade", diz Margareta Winberg, embaixadora da Suécia no Brasil, na época ministra de Assuntos para a
Igualdade dos Gêneros da Suécia.
"O objetivo do projeto era encontrar formas de ampliar os papéis
sociais de meninos e meninas para dar-lhes mais alternativas no futuro", diz Ingeborg Bergvall, professora da pré-escola em Gävle, um dos
oito municípios que implantaram o projeto até 1999.
A partir das filmagens, a equipe da escola decidiu, em um primeiro
momento, separar as crianças em grupos diferentes para trabalhar
questões específicas com cada um. O método é simples: meninos foram incentivados a fazer coisas para as quais meninas são normalmente treinadas, como expressar seus sentimentos e trabalhar em
grupo. As meninas, por sua vez, foram chamadas a reforçar sua identidade, fazer escolhas individuais e dizer "não".
Ainda hoje, a separação dos grupos ocorre nas aulas de ginástica e
pintura e durante as refeições, mas brincadeiras livres e assembléias são
feitas em conjunto. "Nossa meta é ser uma pré-escola sem a divisão entre meninos e meninas", afirma a professora.
A experiência deu origem a um centro pedagógico em Gävle e sua
metodologia foi difundida por todo o país. Com a conclusão do projeto,
em 1999, o trabalho em Björntomten evoluiu para a chamada "pedagogia compensatória". "Antes, as meninas ganhavam proficiência apenas
em habilidade motora fina e relacionamentos e os meninos em habilidade motora global, experimentação e construção. Mas o papel da pré-escola, contudo, é dar às crianças oportunidades de estímulo e desenvolvimento. Praticar aquilo que ainda não dominam se tornou o objetivo principal da nossa pedagogia. Queremos que todas as crianças sintam que é permitido ser doce, travesso, gentil, bobo, criativo, agradável,
independente", conclui Ingeborg.
Mesmo com realidades completamente distintas, a desigualdade entre os sexos também é uma questão importante nas escolas brasileiras.
"Concordo com o princípio, mas não com a metodologia", analisa Silvia Gasparian Colello, professora de psicologia da educação da Faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo). Segundo ela, a
segregação entre meninos e meninas é uma estratégia que distancia a
escola da vida. Mas pondera: "A escola ainda não aprendeu a tirar proveito da convivência entre os gêneros".
Saiba mais
Pré-escola Björntomten/Tittmyran
www.skola.gavle.se/bjorntomten
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