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Entrevista
Cruzada pela educação
O filósofo, escritor e psiquiatra Henrique Schützer Del Nero, fundador e coordenador do Núcleo de Ciência Cognitiva da USP, propõe uma cruzada em prol da educação continuada: trocar uma hora de TV por atividades que motivem a família a melhorar seus níveis de informação.
Folha - Como motivar o professor?
Henrique Schützer Del Nero - Não sei como, a única forma seria implorar para
que o professor se sacrifique um pouco mais além do muito que ele já está se sacrificando. Pediria a ele que imagine que é mais ídolo do que jogador de futebol, só
que sem direito a aplausos.
Folha - Existe uma saída para esse impasse crônico na educação?
Del Nero - Só se aprende de verdade por imitação e admiração. Não adianta nada
falar para o seu filho ler e você mesmo ficar na frente da TV. Ninguém obedece ordem sem sentido. A grande revolução do ensino na Coréia se deu porque os pais
estudavam junto com os filhos: a família estudava junto à noite. Teríamos uma revolução no Brasil se a família desligasse a TV uma hora por dia e se dedicasse a fazer qualquer coisa que agregue conhecimento e fomente as relações humanas.
Folha - Quais atividades você sugere?
Del Nero - Quem não costuma ler o jornal, faça isso. Pode-se ler trechos de um livro ou mesmo o manual de funcionamento do videocassete. Se eu fosse um cavaleiro andante, proporia essa cruzada nacional pelo estudo continuado em família.
A ênfase nisso tem de ser brutal. Sem esse esforço, não teremos chance de sair da
vala comum que joga os jovens no desemprego, na desesperança. Há pelo menos
uma geração perdida pela falta de conhecimento, de qualificação, de oportunidade. Depois, não reclamem dos estupros e dos assaltos nos faróis.
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