São Paulo, terça-feira, 29 de novembro de 2005

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Velejadores querem reunir grupo em Parati para criar uma escola alternativa para os filhos

Um novo destino

Denise Ribeiro
colaboração para a Folha

Em 1975, num casarão no bairro de Perdizes, em São Paulo, nascia a Te-Arte, a primeira escola democrática no país. Sua proprietária, a professora de música Thereza Soares Pagani, 74, já formou três gerações de crianças. Entre seus ex-alunos, estão os filhos de Dulcília Buitoni, jornalista e professora da USP (Universidade de São Paulo). De tão encantada com o modelo da escola -que se mantém o mesmo-, Dulcília está produzindo seu segundo livro sobre a entidade, ainda sem título e com previsão de lançamento para 2006. O primeiro, "Quintal Mágico, Educação-Arte na Pré-Escola", lançado em 1988 pela editora Brasiliense, está esgotado.
"Quintal" é uma denominação muito apropriada para o universo da Te-Arte, hoje instalada numa ampla casa no bairro do Butantã, também em São Paulo. Nos fundos, 75 crianças de até sete anos compartilham as aulas de música ou judô, as brincadeiras no tanque de areia ou na casa de madeira, as atividades lúdicas e as discussões sobre poesia. "[As crianças] fazem aquilo em que estão interessadas, são incentivadas a conhecer sua raiva, alegria, tristeza", explica Thereza. A partir dessa percepção de si e dos outros, a criança pode se tornar "um bom democrata", nas palavras da educadora. "Democracia se contrói com atitudes do tipo "eu me gosto, eu me conheço, eu conheço os meus limites"." Para ela, é importante que a criança perceba que, na vida, tem de se permitir perder e ganhar. "O respeito a si mesmo vem em primeiro lugar. Depois, é possível respeitar o outro e a natureza", completa.
Para Dulcília, o contato com a terra, com os bichos e com a arte torna as crianças mais felizes. "Além disso, há princípios ideológicos muito claros. Todos os professores tanto trocam fraldas como entram no galinheiro, o que é um exemplo forte de cooperação", afirma.
Outro jornalista, Lucas Tauil de Freitas, está de mudança para Parati (RJ) e não se conforma com o fato de ter de privar a filha Clara, de três anos, do ensino da escola. Depois de passar quase dois anos velejando pelo mundo com os pais até aportar em São Paulo para o nascimento da irmãzinha Júlia, Clara vai ter de enfrentar, pela primeira vez, uma escolinha de educação infantil tradicional.
"Minha mulher, Sandra, e eu já conversamos com outros casais que se entusiasmaram com a proposta de uma escola comunitária, nos moldes da Te-Arte. Temos horror a espaço pequeno, aulinhas de informática, ambientes esterilizados e crianças mostrando seus tênis de marca. Em Parati, estamos reunindo adeptos dessa proposta e o apoio de gente que entende do assunto para tentar colocar em prática as idéias da escola", diz o velejador.


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