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André Conti

Um Mac no século passado

Fiel à Apple durante os sombrios anos 90, hoje migrei para o PC; e somos felizes juntos

Quando ganhei meu primeiro Mac, Steve Jobs já havia deixado a presidência da Apple. Não que importasse. Depois de meses monopolizando o computador de amigos, consegui negociar, mediante resultados escolares e bom comportamento, uma máquina para o Natal.

A única maneira de conseguir um Mac há 20 anos era com um contrabandista. Depois da negociação, o computador demorou semanas para chegar, que passaram como meses. Até que um dia o violador alfandegário ligou e disse que estava com tudo pronto e que passaria em casa para instalar "o bicho".

Foi tudo muito cerimonioso. Primeiro ele apresentou o computador, um pequeno monstro com 25 MHz, 80 Mbytes de disco e 4 de RAM. Seguiu-se um ritual com os cabos, que me pareceu a coisa mais difícil e sensacional do mundo. Como golpe de misericórdia, sacou da pasta um drive externo de CD-ROM, passou mais uns fios e ligou meu Mac.

Era o pior momento para apostar na Apple. No lugar de Steve Jobs, tínhamos John Sculley, um almofadinha corporativo que em nada lembrava o espírito da empresa. Responsável pelo fracasso do Newton, um PDA pioneiro que só não deu certo porque era caro, grande e ruim, Sculley inaugurou um período de sombras na Apple, que só acabou com a volta de Jobs, em 1997.

Mas nós seguramos firme. Fale-se o que quiser de Sculley (eleito o 14º pior CEO de todos os tempos pela revista "Condé Nast Port-folio"), nesse período a Apple lançou o PowerBook e também o System 7, sabidamente o melhor sistema operacional de todos os tempos. Não sei bem a razão, mas isso era algo a ser defendido com unhas e dentes.

Quando a Microsoft lançou o Windows 95, nós sabíamos que eles ainda estavam em 89, descobrindo as maravilhas de um sistema com pastinhas, lixeira e "drag & drop" (arrastar e soltar). Nos anos seguintes, fizemos muita troça dos PCs, com seus "winchesters", "kits multimídia" e o enigmático botão "turbo".

Os PCs podiam ser mais baratos. Podiam ter mais jogos e programas. Mas, para um usuário fiel do Mac, ainda eram uns caixotes cinzentos das cavernas, tão intuitivos quanto uma calculadora HP. E pouco importa que a Apple andasse produzindo computadores monstruosos: mesmo os nossos caixotes cinzentos eram mais bonitos que os deles.

Em meados da década de 90, o futuro da empresa era incerto. A aposta nos chips PowerPC, da IBM, em detrimento da Intel, deixou a Apple para trás em termos de hardware, enquanto projetos ambiciosos, como o e-Mate, sangravam os cofres da casa. A Microsoft, que tinha uma versão do Office para Mac, ameaçava abandonar o barco.

Nesse cenário, a volta de Jobs foi como a vitória sofrida de um time saindo da segunda divisão. Perdoamos o mouse redondinho do iMac e toda a estética azul-translúcida. O cara que fazia nossos computadores tinha inventado o iPod e o iPhone. Toma essa, botão Iniciar.

Tive alguns Macs depois daquele glorioso LC 3. Caí no conto do Performa 630, mas fui feliz com o iMac original e com a edição seguinte. Hoje acho que eles são caros demais; migrei para o PC. Não há nada de errado nisso. Somos felizes juntos. Ele tem lixeira e tudo.

chorume.org
@andre_conti

LULI RADFAHRER
Leia a coluna desta semana em
www.folha.com/luliradfahrer

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