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André Conti

Roma contra a rapa

Enquanto o movimento é de acessibilidade, uma produtora se especializa em jogos complexos e realistas

"Civilization 2" deve ter sido o primeiro jogo "sério" que encontrei num computador. Sério não apenas por conta do andamento vagaroso, do escopo ("construa um império que resista ao teste do tempo", dizia a caixa) ou das possibilidades infinitas (vitória militar, diplomática, científica etc.).

Sério porque se pretendia um jogo historicamente correto: embora você mudasse o curso da história ao longo dos séculos, os povos representados se comportavam de maneira autêntica. Quando o Império Asteca se tornava uma grande força do século 20, a trajetória que levara àquilo era bastante convincente no contexto da partida (e lá se foram 900 horas da sua vida).

Apesar disso, a série "Civilization" sempre se valeu de uma versão simplificada da realidade. As unidades do tabuleiro (colonizadores, soldados etc.) são apenas representações ligeiras daquelas funções; quem invade um país, por exemplo, não precisa se preocupar com os suprimentos, a lealdade do general ou com as aflições de cada batalhão.

Do contrário, "Civilization" seria um jogo chato, ou pelo menos é o que eu imaginava. Enquanto o movimento geral é de acessibilidade, com títulos voltados a públicos cada vez maiores, a produtora sueca Paradox Interactive se especializa em jogos de estratégia absurdamente complexos, exigentes e, sobretudo, realistas.

Tente comandar um regimento em "Hearts of Iron 3", um dos títulos mais famosos da casa, que simula os conflitos militares e políticos da 2ª Guerra Mundial. É preciso pensar em tanta coisa -produção industrial, linhas de abastecimento, relações diplomáticas, lideranças regionais, espionagem, rotas de comércio etc.- que, sem o manual (223 págs.) e o guia de estratégia (150 págs.), o ideal é nem começar.

Os recortes temporais são inúmeros. "Europa Universalis 3" cobre o período que vai da queda de Constantinopla até a Revolução Francesa, e o jogador pode escolher uma entre 250 nações para comandar. Há jogos que tratam das Cruzadas, da Companhia das Índias, da Guerra Fria e do Japão feudal, todos com regras próprias para refletir melhor cada época.

A graça toda está nos detalhes. Os líderes políticos e militares dos países em geral têm os nomes corretos, e a cultura de cada povo influencia tão direta quanto sutilmente a simulação. Mas, apesar do rigor histórico, a liberdade é imensa. Não é preciso seguir os livros: escolha um país e faça o que bem entender.

Não tive paciência com o "Hearts of Iron 3", mas há títulos em todos os graus de dificuldade. Uma boa porta de entrada para o "grand strategy", como é conhecido esse gênero, é "Europa Universalis: Rome".

Não que seja uma versão simplificada dos outros. Apenas é mais fácil comandar uma pequena nação celta em 280 a.C. do que a campanha dos Aliados. Depois de algum tempo controlando um país pequeno, já dá para assumir uma facção maior -Roma, Cartago, Egito etc.- e explorar os meandros do jogo.

Só não se esqueça de dar aquela promoção ao filho do seu melhor general. Numa dessas, fiz Roma perder as Guerras Púnicas, e hoje só me sobrou o calcanhar da bota.

chorume.org

@andre_conti

LULI RADFAHRER
escreve neste espaço na próxima edição. Leia a coluna desta semana em www.folha.com/luliradfahrer

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