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Garotas gamers se unem contra o machismo

Vídeo de canadenses ataca o preconceito e levanta debate na web; jogadoras brasileiras farão palestra na Campus Party

No Brasil e no exterior, problema é maior em jogos de tiro em primeira pessoa, diz psicóloga especializada

ALEXANDRE ARAGÃO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Eu sou o Mario", diz uma garota, se referindo ao encanador italiano do videogame. "Eu sou Gordon Freeman", diz outra, sobre o protagonista da série "Half Life".

As frases acima, ditas por meninas canadenses cansadas de preconceito, estão em um vídeo postado no YouTube (bit.ly/manifestogamer). Até agora, cerca de 300 mil pessoas assistiram a ele -e os comentários se dividem entre favoráveis e contrários.

"Jogadores imaturos e trapaceiros tiram a graça de jogar on-line", diz Jessica Oliver-Proulx, 28, uma das canadenses do vídeo.

De acordo com dados referentes a 2010 da ESA (Associação de Software de Entretenimento, em inglês), órgão do mercado de videogames no Canadá, 38% dos jogadores do país são mulheres.

Jessica começou a jogar quando ganhou seu primeiro console da Nintendo, em 1988. De lá para cá, RPGs e games de tiro em primeira pessoa se tornaram seus preferidos -"Guild Wars 2" é o que mais joga atualmente.

A brasiliense Bruna Torres, 25, tem uma história semelhante à de Jessica: começou nos consoles, mas, hoje, dá preferência a jogos no PC.

"Antigamente existia muito preconceito", conta. "Aconteceu uma vez de o cara falar: 'Até parece que ela sabe jogar'. Foi jogar comigo e o matei várias vezes, ele ficou muito bravo."

Ao lado de quatro amigas -uma de Brasília, duas de São Paulo e uma do Rio-, Bruna escreve no blog Girls of War, cujo slogan é: "Quem disse que garotas não jogam?". Elas se encontrarão pela primeira vez no próximo dia 10, em São Paulo, quando farão uma palestra sobre a experiência na Campus Party, a principal feira de inovação e tecnologia do país.

Todos os tipos de game são tratados na página, menos um: "Não comentamos sobre futebol porque nenhuma de nós gosta", diz Bruna. "Queremos mudar isso."

"FEITO MULHERZINHA"

Professora de psicologia e de tecnologia em jogos digitais da PUC-SP, Ivelise Fortim, 30, perdeu o hábito de sentar no computador e fazer login em um RPG. "Ou você tem vida, ou você joga RPG, então parei de jogar porque é incompatível", diz, rindo.

Pesquisadora de jogos desde o mestrado, em 2002, Ivelise estudou o perfil das brasileiras fãs de games. "Se você pergunta a uma mulher se ela joga, ela diz que não, mas tem a fazenda mais maravilhosa [no "FarmVille"]."

"O estereótipo de ser 'gamer' é jogar RPG e jogos de tiro em primeira pessoa", diz a pesquisadora. Segundo ela, esse é o motivo por que muitas mulheres que são viciadas em games -principalmente os disponíveis em redes sociais- não se identificam como "gamer".

Para Ivelise, os jogos de tiro em primeira pessoa são o principal foco de preconceito contra mulheres. "Um xingamento comum entre homens é dizer que o outro joga 'feito mulherzinha'", diz. "Mulheres são mais respeitadas em RPG do que em jogos de tiro em primeira pessoa."

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