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A vida dele era dominada por carros velozes, férias em iates de US$ 10 milhões e uma obsessão por videogames de combate. Mas, segundo amigos, o hacker Kim Dotcom cultivou essa imagem exagerada, ostentatória, desenvolvida de propósito para ajudá-lo a ampliar sua fortuna.

Nascido na Alemanha como Kim Schmitz, Dotcom, 38, é procurado pelo FBI como criador de sites de pirataria que supostamente custaram até US$ 500 milhões em receita perdida aos detentores de direitos autorais.

Também é acusado de lavagem de dinheiro e conluio.

O principal de seus sites, o Megaupload, que permitia a armazenagem de todo tipo de arquivo e tinha 150 milhões de usuários, foi tirado do ar no último dia 19, quando Dotcom e mais três pessoas foram presos na Nova Zelândia, na mansão que ele alugava ao norte de Auckland.

Na semana passada, o hacker teve seu pedido de fiança negado por um juiz local, que alertou que ele poderia tentar fugir do país caso fosse libertado da prisão antes da audiência de extradição para os EUA, marcada para o dia 22 de fevereiro.

Mencionando a descoberta de armas ilegais na mansão de Dotcom, o juiz David McNaughton afirmou que "o risco de fuga [do acusado] continua a ser uma possibilidade real e significativa".

A extravagância do hacker vem de longa data. Em 2001, Dotcom realizou uma viagem a Mônaco na qual usou automóveis de luxo, um imenso iate e helicópteros. Dotcom encomendou um documentário para a ocasião, apresentado pelo comediante de TV alemão Frank Lämmermann.

O propósito verdadeiro, diz um antigo colega de Dotcom que ajudou na organização da viagem, era criar uma sensação de que a riqueza dele era na realidade maior do que parecia, como parte dos esforços do empresário para levantar capital para novos negócios.

Em uma das cenas do filme "Kimble Does Monaco", um grupo de mulheres seminuas leva um banho de champanhe na piscina do iate, observadas pelo "capitão Kim", de terno preto, suéter de gola polo e sapatos bicolores.

"Éramos bem próximos, mas eu jamais sabia o que ele realmente estava pensando. Em alguns momentos, ele era ótima pessoa. Em outros, era horrível. Mas sempre foi esperto quanto a reunir pessoas em torno de si e convencê-las a dar o melhor de si por ele. Conseguia argumentar e motivá-las a fazer o que desejasse", disse o colega.

GORDUCHO SEM AMIGOS

"Ele jamais falava sobre sua infância. Era como se ele tivesse sido o lendário menino gorducho e sem amigos, que tinha apenas seu computador como companhia", acrescentou a fonte.

No fim de 2011, enquanto o FBI concluía a lista de acusações contra ele, Dotcom postou na rede um vídeo em que se gabava de ser o maior jogador mundial de "Call of Duty: Modern Warfare 3", game de tiro ao qual dedicava dezenas de horas.

Outro colega de negócios, também falando sob anonimato, disse que "Dotcom era um homem muito inteligente, muito esperto, rápido no raciocínio, também muito determinado e muito pedante".

Embora fosse uma pessoa confiável -"dentro de limites"-, ocasionalmente demonstrava sinais de "problemas de ira", e muitas vezes "acreditava que o dinheiro pudesse resolver qualquer coisa", disse a fonte. "Ele gosta de sentir que é Deus."

Vizinhos de Dotcom em Auckland afirmam que, nos últimos tempos, ele vivia com relativa discrição. "Nós o víamos de carro pela região, mas era muito discreto", disse Libbi Darroch. "Eu o via dirigindo seu carro, que tinha a placa GUILTY ['culpado']".

Fortuna ele realmente fez. O indiciamento do FBI contra Dotcom pede o confisco de US$ 175 milhões em dinheiro e registra 57 contas bancárias em oito países.

A lista de ativos inclui 15 carros Mercedes com placas especiais como STONED ("chapado"), MAFIA e POLICE, um Maserati, um Rolls-Royce Phantom com a placa GOD ("Deus") e uma Lamborghini, além de 60 servidores e diversas obras de arte.