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André Conti

Duas ou três coisas sobre PCs

O computador é algo pessoal e intransferível, uma escova de dente ligada ao monitor

Computadores quebram numa intensidade proporcional a quanto precisamos deles num determinado momento.

Se for apenas um e-mail urgente, ele se recusa a entrar na internet. Se for um tratamento de imagem, colapso do pacote Adobe. Se for um dia inteiro de trabalho, disco queimado, fumaça e morte.

Quando não morre por si, é desenganado pelos analistas. O smart-phone vai matar o PC. O tablet vai matar o PC. O netbook vai matar o PC. Os consoles vão matar o PC. Peço que acabem logo com isso. A espera, que já dura uns dez anos,

tem sido fatal.

O PC é uma máquina aberta. Faz parte de uma cultura que vem desde os antigos kits de computação, que precisavam ser montados. Ele foi feito para ser mexido e modificado e, por mais amigável que seja na superfície, precisa dar acesso a tudo o que ocorre debaixo do pano.

Também é uma máquina aberta num sentido mais amplo. A internet é o resultado de anos de tentativas de ligar computadores em menor escala: redes caseiras, BBSs, Telnet etc. Isso não ocorreu por razões de mercado. Disseminar informação sempre foi o passo lógico, evidente. Não estava em questão.

Quando uma rede militar foi adaptada para dar conta do fluxo, foram esses usuários que deram o tom do que viria adiante. A internet nasceu da mesma mentalidade que levava o sujeito a varar a noite mandando um arquivo microscópico de uma universidade para outra.

Por isso, não se trata de uma guerra contra a indústria fonográfica ou os estúdios de Hollywood. O espírito por trás de "a informação quer ser livre" tem a ver com essa cultura que se desenvolveu nos últimos 40 anos, e não com o Napster e o Metallica.

E isso vai chegar até o fim, na sua conclusão lógica -tudo o que já foi criado e pensado e registrado pela humanidade estará disponível, organizado e acessível por todos em um disco do tamanho de uma unha do mindinho. Pode demorar mais ou menos, pode sofrer alguns retrocessos, mas não pode ser impedido.

Também por ser aberto, o PC é a plataforma ideal para jogos. Além de estar uma geração à frente dos consoles, essa flexibilidade infinita dá acesso a décadas de sistemas operacionais obsoletos e videogames extintos.

Aquele RPG japonês de Super Nintendo que nunca foi lançado no ocidente? Algum grupo fez uma tradução coletiva e disponibilizou na internet. Tem um Atari Jaguar encostado em casa desde 1996? Há jogos novos sendo lançados por um séquito de fanáticos. E por aí vai.

Pode parecer perda de tempo, mas são esses moleques, embrenhados em dezenas de subculturas digitais, que ditam tudo o que acaba desembocando no "usuário final" em forma de memes, códigos de comportamento e linguagem.

Mas, apesar de todo o sentido de comunidade, o computador é algo pessoal e intransferível, uma escova de dente ligada ao monitor. Da imagem de fundo de tela à disposição dos seus arquivos, é uma relação que excede o utilitarismo.

Tente sugerir a alguém que arrume as dezenas de arquivos soltos na área de trabalho e ele vai dizer que sabe exatamente onde tudo está.

chorume.org

@andre_conti

LULI RADFAHRER
escreve neste espaço na próxima edição. Leia a coluna desta semana em www.folha.com/luliradfahrer

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