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Luli Radfahrer

Quem nunca fotoxopou?

Com seus 22 anos e 12 versões, o Photoshop traz valiosas lições sobre como manter um produto no topo

FALA-SE HOJE em Facebook, Google e iPhone com a mesma combinação de fascínio e terror que um dia já se falou de Motorola e Nokia. Tudo se move rápido demais no mundo digital, e são poucas as empresas que conseguem permanecer competitivas ao longo dos anos. Apesar de o Vale do Silício ter aquele ar hollywoodiano de terra de oportunidades, contam-se nos dedos empresas longevas como uma Adobe, uma Dell, uma Amazon.

Por ter grande mobilidade, a concentração de poder e influência no mundo digital surge tão rápido quanto desaparece, a ponto de ser cada vez mais difícil encontrar quem fique na liderança por uma mísera década. Na virada do século não havia Friendster, Myspace nem Orkut, o grande buscador era o Yahoo!, seguido pelo Lycos. E a internet móvel estava a cargo de empresas inovadoras como Palm e Kyocera.

O usuário de produtos digitais é cada vez mais volúvel e pragmático. Novos produtos e serviços podem até seduzi-lo com propaganda, design e preço. Mas a relação dificilmente será mantida se a marca não se renovar com a velocidade esperada, pouco importa sua fatia de mercado. Kodak e Sony que o digam. Mesmo que ainda sejam gigantescas, já não têm o apelo de outrora.

A melhor lição de empresas bem-sucedidas em relacionamentos de longo prazo é a do bom e velho Photoshop, vendendo saúde em seus 22 anos de idade e 12 plásticas (oops, versões). Como o Google, ele é sinônimo de categoria e verbo. Mas também é adjetivo, substantivo, pejorativo e indicativo de retoques fotográficos, mencionado com familiaridade até por quem não faça ideia de como ele funciona. Ao contrário do AutoCAD, que é oito anos mais velho, mas desconhecido fora de seu nicho, o Photoshop é unanimidade.

Sua estratégia de sedução é bastante simples e parecida com a de outro produto igualmente maduro: o Microsoft Excel. Eles não tentam ser bonzinhos nem complicados.

Seu público ideal é o intermediário, que busca acesso rápido ao que precisa e raramente usa algo mais sofisticado. Por isso, não desperdiçam o tempo dos novos usuários tentando ensiná-los a conhecer suas tecnologias por inteiro, como o fazem certos games e aplicativos para ilustração 3D.

Pelo contrário, facilitam a curva de aprendizado, deixando acessível o que é mais relevante para rápido aprendizado. Como funcionam bem e podem ser usados para soluções sofisticadas, criam nos usuários uma relação de confiança e estabilidade, quase inexistente na área.

Sob esse aspecto, percebe-se que muitas empresas que fracassaram pecaram por ser simplórias demais, rígidas demais ou complexas demais. Atari, Silicon Graphics, Blockbuster e tantas outras unanimidades frustraram seus consumidores por falta de flexibilidade, encantadas com seu próprio êxito e incapazes de ver o iceberg no caminho.

A Apple é um exemplo de sobrevivência nesse mercado, mesmo que ainda não tenha sido capaz de aprender todas as lições que inspirou. Mac e iPad são bastante flexíveis, compatíveis e amigáveis, ainda mais quando comparados a Linux e Android. Mas teimam em ser paternais e irritantemente simplórios. O mesmo acontece com os Google Docs, que, mesmo com todos aqueles computadores, parecem incapazes de fazer uma boa planilha.

ANDRÉ CONTI
escreve neste espaço na próxima semana

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