Índice geral Tec
Tec
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

André Conti

Trava infernal

O sistema antipirataria usado em "Diablo 3" traz mais prejuízos do que benefícios aos jogadores

Na semana passada, a Blizzard anunciou o inevitável: "Diablo 3" é o best-seller mais rápido da história dos jogos. Foram 3,5 milhões de cópias só nas primeiras 24 horas, e, se contarmos as credenciais da produtora, os números devem chegar à estratosfera.

Natural que, em um lançamento desse porte, haja problemas com os servidores na primeira semana. Em todo game grande de tiro também é assim: de início, é melhor partir para a campanha de um jogador. Após uns dias, o multijogador se estabiliza e dá para jogar on-line.

Mas as falhas iniciais de "Diablo 3", como servidores fechados e partidas on-line inviabilizadas por panes de conexão, serviram para mostrar quão danosa é a política antipirataria da Blizzard. Isso porque, em "Diablo 3", mesmo na campanha de um jogador, é preciso estar conectado à internet (e à Blizzard).

Os benefícios seriam muitos. Prevenir os servidores contra invasões, trapaceiros e piratas. Unificar as casas de leilão, onde jogadores podem comprar e vender itens por dinheiro de verdade. É possível negociar itens obtidos tanto no multijogador quanto na campanha principal.

O que ficou para trás foi o direito sacrossanto de comprar um jogo, instalá-lo e, oras, jogá-lo. Com os servidores em manutenção, mesmo quem quisesse jogar sozinho ficou de fora. E, a despeito de ser um problema do lançamento, é indesculpável que uma produtora como a Blizzard, dona do maior jogo on-line do mundo, "World of Warcraft", tenha deixado tanta gente na mão com uma exigência que ela criou.

Quanto aos ladrões de conta, aparentemente a medida não serviu para afastá-los. Há usuários em fóruns brasileiros e estrangeiros reclamando de contas surrupiadas e itens desaparecidos. Mesmo que a situação se normalize, sempre haverá brechas no multijogador. Então por que a exigência da conexão para quem quer jogar sozinho?

Não sou contra travas eletrônicas, contanto que haja benefícios. Uso bastante o Steam, a loja virtual da Valve, onde todos os jogos têm alguma proteção. Mas a praticidade é imensa, a oferta é vasta e ele me deixa jogar se a internet cair.

Mais que isso, conta com sistema integrado de modificações dos usuários, o Steamworks. Enquanto no Steam o jogador pode baixar centenas de fases, itens e alterações criadas pela comunidade, em "Diablo 3" essa experiência está fechada.

Espero que o modelo não prevaleça. Jogos bons duram enquanto há gente criando em torno deles. Afinal, as mesmas comunidades que garantem o culto de "Diablo 2", lançado em 2000 e bastante jogado até hoje, é que estão sendo barradas.

Ninguém discute que o multijogador de "Diablo 3", que é de fato o elemento central da série, precise oferecer a mesma experiência a todos. Mas, estando off-line, ainda que só em espírito, eu quero mexer com o grau de dificuldade, jogar missões criadas por usuários e, no limite, fazer o que bem entender.

Acho impensável que um sistema de leilão a dinheiro real (que jamais vou usar) ou qualquer outra coisa exterior ao jogo interfiram com o que faço quando não estou on-line. E, mesmo quando os problemas técnicos forem resolvidos, vai atrapalhar a vida de quem só gosta de passar horas e horas clicando sozinho.

folha.com/jogatina

@andre_conti

LULI RADFAHRER
escreve neste espaço na próxima edição. Leia a coluna desta semana em www.folha.com/luliradfahrer

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.