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Luli Radfahrer

Hora de arriscar

Mais do que aplicativos ou perfis no Facebook, a imprensa precisa de uma grande reforma editorial

O Futuro da imprensa esquenta debates em veículos de mídia de todos os tipos, tamanhos e segmentos ao redor do mundo.

A internet e, com ela, a popularização e facilidade do acesso a conteúdos em diversos níveis de profundidade, atingiu em cheio o segmento cujo modelo de negócios dependia da escassez de informação.

Vários títulos fecharam e praticamente todos reduziram suas operações. Alguns investem nos meios tradicionais como rádio e TV, outros criam aplicativos e blogs.

Por mais que seja inquestionável o valor da curadoria e da análise dos editoriais, não há modelo consolidado. Alguns disponibilizam o conteúdo aberto e depois restringem o acesso, outros ignoram completamente o mundo digital, recusando-se a ver o elefante na sala, a caminho da cristaleira.

Até mesmo os mais moderninhos, voltados para públicos especializados, são tímidos em suas transformações. Como a escola tradicional, com sua estrutura de aulas discursivas, livros didáticos e provas, a mídia está em crise de identidade.

Isso não quer dizer que estejam com os dias contados -muito pelo contrário. Mas é inegável que os dois modelos de transmissão de informação, estruturados para suprir as necessidades das economias urbanas e mecanizadas da Revolução Industrial, precisam de reforma.

A redução da circulação de jornais e revistas tem vários pontos em comum com o desinteresse dos alunos em sala de aula. Nos dois ambientes o conteúdo é apresentado inteiro, finito, fechado, para uma audiência genérica, de nível mediano, cuja única voz está em algum comentário ou avaliação posterior.

Uma vez apresentado, o conteúdo está morto, esgotado, soterrado pela próxima edição. Não há dúvidas de que dá para fazer mais. O problema é como fazê-lo.

Uma boa pista pode estar na forma como se tem acesso direto a novos conteúdos, com pouca ou nenhuma interferência da mídia. Em uma conversa, por exemplo, mesmo que a diferença de conhecimento e autoridade seja enorme, o interlocutor educado não apresenta seu conteúdo por inteiro para depois se calar, aguardando resposta.

Pelo contrário, o que se vê costuma ser um diálogo com várias perguntas e leves mudanças de direção, em que autor e leitor se envolvem no ritmo do conteúdo como numa dança envolvente, em que cada participante guia e se deixa guiar.

Perfis no Twitter e no Facebook, apps ou websites compatíveis com smartphones e tablets não terão efeito significativo enquanto não estiverem dedicados a uma profunda transformação do modelo editorial.

Até há pouco tempo, conduzir um discurso impresso dessa forma era tecnicamente inviável. Não mais. As novas bases de dados, integradas via internet a aplicativos bem projetados, podem levar em conta o perfil do leitor, seu histórico, interesses, hábitos e nível de conhecimento para estabelecer um diálogo contínuo, envolvente e cheio de referências cúmplices, aproveitando partes de edições passadas.

Por mais que a tecnologia já exista e os bancos de dados estejam digitalizados, ainda não há veículo no mundo em que essa conversa exista. Pode até ser que nem seja viável, mas considerada a situação atual da imprensa, certamente vale a pena experimentar.

folha@luli.com.br

ANDRÉ CONTI
escreve neste espaço na próxima semana

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