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Maneire com gadgets, diz Vale do Silício

Empresas de tecnologia estão preocupadas com o efeito do tempo gasto on-line sobre os relacionamentos

Estímulo constante cria compulsão que pode prejudicar produtividade e interações pessoais

Annie Tritt/"The New York Times"
Soren Gordhamer, organizador da conferência Wisdom 2.0
Soren Gordhamer, organizador da conferência Wisdom 2.0

MATT RICHTEL
DO “NEW YORK TIMES”

Stuart Crabb, diretor-executivo do Facebook, naturalmente gosta de louvar os extraordinários benefícios que os computadores e os smartphones propiciam. Mas, como muitos dos líderes do setor de tecnologia, também faz um aviso: é melhor desligar os aparelhos e deixá-los de lado, de vez em quando.

A preocupação, expressada em conferências e em entrevistas recentes de muitos executivos importantes do setor de tecnologia, é que os atrativos de um estímulo constante -as exigências ininterruptas dos telefonemas, mensagens e atualizações- estejam criando uma séria compulsão física que pode prejudicar a produtividade e as interações pessoais.

"Se você colocar uma rã na água fria e elevar lentamente a temperatura, ela ferverá até a morte -eis uma boa analogia", disse Crabb, que comanda a área de aprendizado e desenvolvimento do Facebook. As pessoas "precisam perceber o efeito que o tempo passado on-line tem sobre seu desempenho e relacionamentos".

Ouvir esse tipo de afirmação da parte de muitos dos mais influentes líderes do Vale do Silício, cujas empresas se beneficiam do tempo que os usuários passam on-line, seria como se executivos do setor automobilístico tentassem alertar sobre os perigos da aceleração excessiva enquanto vendem carros esporte.

"Já passamos da fase de lua de mel, e agora chegamos à fase de perguntar o que foi mesmo que fizemos", disse Soren Gordhamer, organizador da Wisdom 2.0, uma conferência anual realizada desde 2010 sobre a busca de equilíbrio na era digital. "Não significa que aquilo que fizemos seja ruim. Não estamos tentando atribuir culpa. Mas uma página foi virada."

Crabb, do Facebook, diz que sua preocupação primária é que as pessoas tenham vidas equilibradas. Ao mesmo tempo, reconhece que a mensagem pode contrariar o modelo de negócios do Facebook, que encoraja as pessoas a passar mais tempo on-line. "Vejo o paradoxo", afirma.

MEDITAÇÃO E PINTURA

Na Cisco, Padmasree Warrior, vice-presidente de tecnologia e estratégia e antiga vice-presidente de engenharia, um cargo no qual comandava 22 mil subordinados, diz que os instruía a fazer pausas regulares para respirar, e que faz o mesmo. Ela medita todas as noites e, no sábado, pinta e escreve poesia, desligando o celular ou deixando-o em outro aposento.

"É como se você reiniciasse sua mente e alma", diz. Ela acrescentou, quanto à desintoxicação digital das manhãs de sábado, que "isso me deixa muito mais calma quando tenho de responder os meus e-mails, mais tarde".

Kelly McGonigal, psicóloga que leciona sobre a ciência do autocontrole na escola de medicina da Universidade Stanford, acredita que aparelhos interativos podem criar senso permanente de emergência, acionando os sistemas cerebrais de estresse- uma posição que começa a ganhar mais aceitação.

"É um reconhecimento cultural básico de que as pessoas têm um relacionamento patológico com seus aparelhos", diz. "As pessoas se sentem não só viciadas como aprisionadas."

O Google criou um movimento para ensinar conscientização e técnicas de melhora de foco aos seus funcionários. Richard Fernandez, instrutor de executivos da companhia e um dos líderes do projeto, diz que os riscos de envolvimento excessivo com aparelhos são graves.

"É algo de muito importante", diz, acrescentando que, se as pessoas conseguirem se desconectar de vez em quando, "poderão ter relacionamentos mais íntimos e autênticos com elas mesmas e aqueles a quem amam em nossas comunidades".

O Google, que é dono do YouTube, fatura mais com publicidade caso os usuários fiquem on-line por mais tempo. Mas Fernandez disse que o objetivo da empresa não era pressionar as pessoas a adotar comportamento destrutivo.

"Os consumidores precisam ter uma bússola interna que os ajude a equilibrar as capacidades de trabalho e busca que a tecnologia oferece com a qualidade de vida que têm off-line", diz.

"O objetivo é criar espaço, porque de outra forma podemos ser arrastados pelas nossas tecnologias", afirma Fernandez.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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