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Análise

Censura nos grandes sites já vai além de mamilos e vaginas

NELSON DE SÁ
DE SÃO PAULO

Nem o Twitter escapa. Dois meses atrás, em meio à sua parceria com a NBC para a cobertura dos Jogos Olímpicos, a rede social baniu por iniciativa própria o perfil de um jornalista que questionava a emissora de TV, com a desculpa de que ele havia postado o e-mail de um executivo -de divulgação já pública. Diante da repercussão negativa, o Twitter pediu desculpas e recolocou a conta no ar.

Mas nada se compara ao problema de Mark Zuckerberg com mamilos. No que a "New Yorker" apelidou de "Nipplegate", mamilogate, o Facebook baniu a página da revista por um desenho feito pelo cartunista Mick Stevens. Ao longo dos anos, a rede vem derrubando perfis com fotos de mulheres amamentando, e até pinturas já foram tiradas do ar, de páginas como a do Centro Pompidou, de Paris. Diante do ridículo, correu o mundo uma foto dos mamilos de Zuckerberg, um mês atrás num retiro do Facebook, postada por um funcionário no próprio site -e depois retirada.

Outra parte do corpo feminino enfrenta a censura tecnológica. A Apple de Tim Cook, número um na lista de "gays e lésbicas mais influentes da América" da revista "Out", colocou estrelas para cobrir parte da palavra "Vagina", título do livro de Naomi Wolf. A prática remete às bolinhas de "Laranja Mecânica", na ditadura brasileira.

Os exageros cômicos da polícia moral do Facebook e da Apple, que sempre voltam atrás e se desculpam, podem ser creditados também à terceirização do serviço para países como Índia ou Filipinas. Mas, como mostra o caso do Twitter, as ações discricionárias podem ir além.

Por exemplo, quatro meses atrás, a mesma Apple recusou pela terceira e última vez o aplicativo Drones+, desenvolvido por Josh Begley, da Universidade de Nova York, para informar sobre as mortes provocadas regularmente por veículos aéreos não tripulados dos EUA no Oriente Médio. A App Store justificou a censura, primeiro, dizendo que o app "não é útil". Depois, que é "questionável e brutal" e que tem cenas violentas.

Begley agora vai adaptar seu aplicativo, que na verdade é bastante útil e não tem nada de brutal, para o sistema Android, do Google. Mas também a empresa de Larry Page e Sergey Brin vem mudando sua estratégia, a ponto de ser criticada publicamente pela Electronic Frontier Foundation -a organização de defesa da internet livre que é financiada, desde o início, pelo próprio Google.

Há duas semanas, Page e Brin espalharam que o YouTube, que é parte do Google, não cedeu aos reclamos do governo americano para tirar um vídeo anti-islã do ar. Mas na verdade tirou, no Egito, na Líbia e em outros países do Oriente Médio. "Na hora em que deveria ter se apegado a seu compromisso com a liberdade de expressão, o Google cedeu à pressão", condenou a coordenadora da EFF.

A EFF lembra que outras gigantes de tecnologia, como Amazon e eBay, já cederam à pressão política americana contra o WikiLeaks e vê "potencial para consequências de grande alcance" na atitude do YouTube, agora.

Para além das pressões governamentais e morais, Facebook, Apple, Google e outras vêm censurando cada vez mais por uma razão anterior: porque podem. Como alertou há dois anos o criador da web, o inglês Tim Berners-Lee, vendo risco para a própria liberdade de expressão na internet, Zuckerberg, Cook, Page e Brin detêm todo o poder em suas "ilhas".

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