São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2011

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ANDRÉ CONTI

Cthulhu salva o mundo


As empresas têm apostado em jogos seguros, em geral sequências de franquias estabelecidas

Até agora, 2011 não foi um ano muito bom para os jogos. Com uma ou outra exceção, as empresas têm apostado em jogos seguros, em geral sequências de franquias estabelecidas ou adaptações apressadas de filmes. Produzir um jogo tornou-se caríssimo, e é natural que as grandes produtoras não saiam investindo milhões de dólares em algo novo e original, ainda mais quando podem lançar a enésima versão de Homens de Verde Andam Para a Frente e Atiram.
Fiquei pensando nos últimos jogos de que gostei e os três eram independentes. Não digo isso com orgulho e não sou nenhum ermitão pregando contra os avanços da tecnologia de ponta. Adoro jogos novos, com gráficos violentamente bons e ambições cinematográficas. O problema é que eles andam chatos e repetitivos. E quem não precisa de uma equipe de centenas de pessoas e nem de investimentos monstruosos acaba podendo arriscar mais.
Meu favorito desses é o VVVVVV (Windows e Mac OS X), lançado em 2010. Com uma estética que remete à época de ouro do Commodore 64, VVVVVV é uma homenagem aos jogos de plataforma da década de 1980.
A diferença é que não há pulo para ultrapassar plataformas ou desviar de inimigos. Em vez disso, a tecla de espaço inverte a gravidade e faz o personagem "grudar" no teto. Os quebra-cabeças são desorientadores e morre-se dezenas de vezes para chegar ao fim de uma fase. Vendido a US$ 5, é um caso raro de jogo forçadamente retrô que consegue trazer algo de novo ao gênero ao qual faz referência.
Realm of the Mad Dog foi lançado em junho deste ano, e não deve ser praticado por pessoas suscetíveis a vícios eletrônicos.
Espécie de RPG colaborativo de ação, Realm pode ser jogado de qualquer navegador e é gratuito (alguns itens dentro do jogo custam dinheiro de verdade). Você começa como um mago destruindo galinhas e vai avançando o personagem até combater deuses e seres mitológicos, acompanhado de dezenas de jogadores.
Falando assim, parece tolo. Mas o mérito de Realm é recriar, com pouquíssimos recursos, o que há de melhor nos RPGs online, deixando de lado as partes maçantes (adeus, cortar lenha). O mesmo ocorre em Cthulhu Saves the World, um RPG nos moldes da série Final Fantasy, lançado para Windows e na Xbox Live. Feito no espírito de um jogo de NES, Cthulhu é ao mesmo tempo um RPG bastante competente e um comentário sobre o gênero.
O protagonista do jogo é o Cthulhu, ser ancestral criado pelo escritor H. P. Lovercraft. No início da trama, ele é despertado de sua prisão glacial e tem os poderes roubados por um estranho. O objetivo é tornar-se um herói e salvar o mundo do estranho, para então recuperar seus poderes e destruir o mundo.
A graça está nos diálogos entre o narrador e o Cthulhu, todos absurdamente cínicos e cheios de referências ao mundo dos jogos.
Quem já passou por qualquer RPG vai sentir na pele as frustrações do polvo milenar conforme ele lida com sistemas de inventário, mapas e combates aleatórios. Por US$ 3, é bem mais divertido do que muitos dos jogos recentes que ele parodia.

chorume.org
@andre_conti


LULI RADFAHRER
Leia a coluna desta semana em
www.folha.com/luliradfahrer


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