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#PRONTOFALEI
LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br
Mobilidade, redefinida
EM UMA ÉPOCA remota que
ainda se podia colocar "revolução" e "informática" na
mesma frase sem dar a ela
um tom de ironia, Bill Gates
sonhava com um futuro razoavelmente próximo, em que
cada um tivesse à disposição
um computador pessoal
-PC, para os íntimos. Poucos
o levaram a sério, muitos
acharam que isso era exagero, discurso de vendas. Mas
como ele era o homem mais
rico do mundo na época, quase ninguém o questionou.
O mesmo Gates não demorou para reconhecer que estava errado. Suas previsões
eram tímidas. Em sua defesa,
argumentou que há uma tendência a superestimar o que
vai acontecer em dois anos
enquanto se subestima o que
pode surgir em uma década.
É natural. Tudo de novo
que está próximo apaixona
por seu potencial. Os primeiros dias em um emprego, em
uma cidade, em um namoro
ou com uma tecnologia são
mais fascinantes pela novidade do que por uma análise
racional. À medida que a relação se desenvolve, surge
uma melhor compreensão de
capacidades e limitações.
Desde o surgimento do
SMS, a indústria de telefonia
defende que o futuro está na
mobilidade, e que ele estaria
próximo. O problema é que a
internet via celulares era uma
bolha dentro da bolha, difícil
de explicar ou de defender, e
tecnologias emergentes eram
lerdas, complexas e caras. É a
maldição dos dois anos.
Entre todos os empecilhos
a uma verdadeira mobilidade, o maior sempre foi o aparelho. Notebooks eram pesados demais, quentes demais,
nerds demais. E sua bateria
não durava nada. Já smartphones eram lerdos demais,
complicados demais, pequenos demais. E sua bateria não
era muito melhor. Os netbooks, intermediários, reuniam o que as duas tecnologias tinham de pior.
Então surge o livro de Jobs:
o iPad. Como o iPhone (que se
tornou a maior plataforma de
games portáteis e superou
com folga o PlayStation Portable e o Nintendo DS), ele
não é um livro. Não é um porta-retratos. Não é um game.
Não é um computador. Acima
de tudo, não é um tablet PC.
Ele é uma nova experiência, e
como toda experiência nova,
deixa todos fascinados. Resta
saber se o fascínio durará.
Uma coisa é certa: ele é
uma nova categoria de equipamento, mais um chip pessoal e portátil. Segundo a
Anatel, já há mais celulares
do que gente no Brasil. Será
essa a bênção dos dez anos
para a mobilidade?
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