São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2010

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#PRONTOFALEI

LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br

A forma mais sincera de elogio

SIM, A CÓPIA. Taí algo que deveria ser incorporado, não reprimido.
A questão do plágio é mal resolvida nas sociedades ocidentais. Valoriza-se tanto a invenção do "novo" que poucos se dão conta de que quase nada é criado a partir do zero.
A cópia é parte do processo de aprendizado. Todos começam a escrever, calcular, dançar e se socializar por meio da imitação. A estrutura social, da mitologia à autoajuda, é perpetuada pela reprodução. Mesmo entre os criativos são raros os músicos, escritores ou pintores que não tenham na cópia seu ponto de partida.
O problema da cópia hoje em dia não é a imitação, mas o fato de poucos serem capazes de passar desse estágio infantil e seguir adiante. "Em time que está ganhando não se mexe", defendem muitos gestores, enquanto velhas ideias são repetidas até o ponto de se tornarem piadas que um dia tiveram graça.
No Oriente é diferente. Made in China é pejorativo, como já o foram os manufaturados no Japão e na Coreia do Sul. Enquanto muitos pensam em HiPhones e brinquedos ruins, a Shuanghuan Auto cria "versões" do BMW X5 e do Smart, esse último um carro elétrico que acomoda quatro pessoas. A verba de pesquisa, poupada na cópia, é reinvestida em tecnologia. Pode ser eticamente condenável, mas que atire a primeira pedra quem nunca partiu de uma solução pronta para criar novas ideias.
A "cópia" oriental tem muito a ensinar em seu humilde aprendizado, aberto às ideias de profissionais de todo o mundo e surdo para a crítica dos arrogantes que um dia tiveram uma boa ideia e se acomodaram com ela. O resultado fica evidente quando vence a barreira da baixa qualidade e do preconceito, nem que precise comprar a divisão de notebooks da IBM ou a de carros da Volvo.
A prática chinesa tem até nome: Shanzhai (abrigo). Ele se refere à estrutura das fábricas, parecidas com as inglesas do começo da Revolução Industrial. À medida que se desenvolvem, elas devem melhorar as condições dos trabalhadores. Não por serem boazinhas nem por terem medo de leis, mas para criarem mercados. Bangalore não é diferente. Nem Londres.
Cópia, enfim, é parte da essência do mundo contemporâneo. Evitá-la é impossível. O velho ditado sugere juntar-se àqueles que não se pode combater. Não parece uma ideia tão má.


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