|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
#PRONTOFALEI
LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br
A forma mais sincera de elogio
SIM, A CÓPIA. Taí algo que
deveria ser incorporado, não
reprimido.
A questão do plágio é mal
resolvida nas sociedades ocidentais. Valoriza-se tanto a
invenção do "novo" que poucos se dão conta de que quase
nada é criado a partir do zero.
A cópia é parte do processo
de aprendizado. Todos começam a escrever, calcular, dançar e se socializar por meio da
imitação. A estrutura social,
da mitologia à autoajuda, é
perpetuada pela reprodução.
Mesmo entre os criativos são
raros os músicos, escritores
ou pintores que não tenham
na cópia seu ponto de partida.
O problema da cópia hoje
em dia não é a imitação, mas
o fato de poucos serem capazes de passar desse estágio
infantil e seguir adiante. "Em
time que está ganhando não
se mexe", defendem muitos
gestores, enquanto velhas
ideias são repetidas até o
ponto de se tornarem piadas
que um dia tiveram graça.
No Oriente é diferente. Made in China é pejorativo, como já o foram os manufaturados no Japão e na Coreia do
Sul. Enquanto muitos pensam
em HiPhones e brinquedos
ruins, a Shuanghuan Auto
cria "versões" do BMW X5 e
do Smart, esse último um carro elétrico que acomoda quatro pessoas. A verba de pesquisa, poupada na cópia, é
reinvestida em tecnologia.
Pode ser eticamente condenável, mas que atire a primeira pedra quem nunca partiu
de uma solução pronta para
criar novas ideias.
A "cópia" oriental tem muito a ensinar em seu humilde
aprendizado, aberto às ideias
de profissionais de todo o
mundo e surdo para a crítica
dos arrogantes que um dia tiveram uma boa ideia e se
acomodaram com ela. O resultado fica evidente quando
vence a barreira da baixa
qualidade e do preconceito,
nem que precise comprar a
divisão de notebooks da IBM
ou a de carros da Volvo.
A prática chinesa tem até
nome: Shanzhai (abrigo). Ele
se refere à estrutura das fábricas, parecidas com as inglesas do começo da Revolução
Industrial. À medida que se
desenvolvem, elas devem melhorar as condições dos trabalhadores. Não por serem
boazinhas nem por terem medo de leis, mas para criarem
mercados. Bangalore não é
diferente. Nem Londres.
Cópia, enfim, é parte da essência do mundo contemporâneo. Evitá-la é impossível.
O velho ditado sugere juntar-se àqueles que não se pode
combater. Não parece uma
ideia tão má.
Texto Anterior: Atalho - José Antonio Ramalho: Conversão de arquivos on-line Próximo Texto: Games: Em português Índice
|