São Paulo, quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

ANDRÉ CONTI

Fumito é um colosso


Os jogos de Fumito Ueda servem de argumento para aqueles que veem os games como obras de arte

OS JOGOS do desenvolvedor Fumito Ueda e de sua equipe, conhecida como Team Ico, costumam levar tempo para ficar prontos.
O grupo, parte da divisão de entretenimento digital da Sony Japão, é mínimo e passa anos criando e aperfeiçoando seus títulos, sempre exclusivos para o PlayStation.
De 1998, quando começaram a trabalhar no primeiro jogo, até hoje, foram só dois lançamentos, ICO e Shadow of the Colossus, ambos para o PlayStation 2, com um terceiro, The Last Guardian, prometido para 2012 após sucessivos atrasos.
Enquanto não anuncia uma data para The Last Guardian, a Sony acaba de relançar ICO e SotC numa edição especial para PlayStation 3, com gráficos em HD e extras. São dois dos melhores jogos da década passada pelo preço de um.
ICO é um jogo de plataforma em que o jogador conduz um garoto e uma princesa por um castelo, superando obstáculos e resolvendo quebra-cabeças. A princesa precisa ser levada pela mão, e cabe a você ajudá-la a ultrapassar precipícios, escalar muralhas e fugir das criaturas que estão tentando capturá-la.
O diabo é que para puxar a princesa você precisa segurar um botão no controle. Nessa escolha simples de design está um mundo de diferença entre ICO e os demais jogos de plataforma.
É difícil levar a princesa de um ponto ao outro. Incômodo, até. Mas, ao obrigar o jogador a manter um botão pressionado durante boa parte do tempo, ICO evidencia e fortalece a relação entre o protagonista e a princesa. O restante do jogo é econômico e minimalista, e não há firulas e artifícios. É a própria condução dos personagens que causa o sentimento de imersão.
Não é por acaso que o protagonista de SotC usa o mesmo botão no controle para se prender às superfícies e beiradas. No seu segundo título, Ueda filtrou e expandiu as ideias centrais de ICO, criando o que é até hoje um dos principais argumentos de quem defende os méritos artísticos dos videogames.
Shadow of the Colossus é antes de tudo um jogo de quebra-cabeças. Os quebra-cabeças em questão, no entanto, são 16 colossos ancestrais, alguns com dezenas de metros, que vagueiam uma terra ademais povoada só por lagartos e pássaros.
Não há inimigos ou fases em SotC. Para salvar sua amada, o protagonista e seu cavalo Agro percorrerão florestas, desertos, ruínas, cavernas e montanhas atrás dos colossos. O jogo consiste em encontrá-los, tarefa que vai se tornando progressivamente mais difícil, e descobrir como se mata cada um deles.
Alguns mal notam a presença do protagonista. Eles caminham com um olhar perdido, enquanto você escala os monstros atrás de um ponto fraco para derrubá-los. Manter-se equilibrado é apenas uma das tarefas, e o jogo exige uma combinação de destreza e observação para que cada colosso seja desvendado.
Mas há também algo de cruel em massacrar essas criaturas ancestrais em benefício próprio, embora isso nunca seja dito. Um dos méritos de SotC e ICO é permitir que o próprio jogador se envolva com o jogo à sua maneira, sem interferências desnecessárias. Como se vê com os atrasos de The Last Guardian, fazer menos leva tempo.

chorume.org

@andre_conti


LULI RADFAHRER
Leia a coluna desta semana em
www.folha.com/luliradfahrer


Texto Anterior: Primeiro celular 3D sem óculos é potente, mas sofre de gigantismo
Próximo Texto: Bicho raivoso
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.