São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 2011

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eu tuíto, tu tuítas...

André Conti, colunista de Tec, comenta traduções esquisitas em tecnologia, como 'Tópicos da Tendência', do Twitter, que acaba de ser vertido para português

ANDRÉ CONTI
COLUNISTA DA FOLHA

No início da década passada, trabalhei numa agência que cuidava de sites de grandes empresas de tecnologia.
Eu e um colega alimentávamos o sistema: recebíamos textos traduzidos sobre periféricos, atualizações de sistema e novos computadores e íamos montando as páginas brasileiras.
Não líamos os textos -ninguém havia pedido-, mas um dia ele levantou a cabeça por sobre o monitor e, com um olhar atrapalhado, perguntou:" Bicho, o que diabos é um motorista de impressora?".
Tratava-se de uma metáfora visual poderosa: o driver que faria a impressora funcionar era representado pelo tradutor como um automóvel, levando as informações de lá para cá.
Resolvemos ler todos os textos a partir daquele dia, antes que fosse preciso um brejo para guardar nossa memória RAM.
Hoje, com a força das redes sociais no Brasil, é natural que as grandes empresas traduzam suas ferramentas para o público nacional. Foi assim com o Orkut, com o Facebook e, agora, com o Twitter. Para quem se acostuma com a versão original, é um equivalente aos cardápios de restaurantes cariocas traduzidos para o inglês. E dá-lhe "horse's beef" (bife a cavalo), "Oswald Spider steak" (filé à Oswaldo Aranha) e o meu preferido, "lentils just in weekends" (lentilha só aos fins de semana).
A tradução do Twitter para o português do Brasil é benfeita. A decisão mais arrojada foi oficializar o verbo "tweetar", com essa grafia mista. Eu teria ficado com o aportuguesamento completo: eu tuíto, tu tuítas.
Mas como sempre há o Risco Policarpo Quaresma -no caso, traduzir "Twitter©" para"Piador©" e o verbo"to tweet" para "piar"-, a combinação de "tweet" com "tuitar" que venceu não é de todo má.
Mas gostaria de ter estado na reunião na qual se decidiu pelo termo "Tópicos da Tendência", como tradução de "Trending Topics".
Alguém há de ter levantado a mão, perguntado senão era melhor jogar simples, "assuntos em alta" ou alguma coisa do tipo. Qualquer coisa, na verdade, que não acabasse formando a frase "tópicos da tendência mundial".
Algumas adaptações culturais se fazem necessárias, claro. O Twitter tem a opção de indicar o local de onde a mensagem foi postada, via GPS. Em inglês, as instruções dizem: "Você já quis compartilhar alguma coisa('fogos de artifício!', 'festa!', 'caminhão de sorvete!' ou 'areia movediça...') que seria melhor com uma localização?".
Os brasileiros naturalmente não sabem o que é um"caminhão de sorvete", e a menção a um deles nos deixaria confusos e perdidos.
Por nossa sorte, uma boa alma adaptou o termo para "o carro da pamonha!". Já me sinto em casa.


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