São Paulo, quarta-feira, 18 de agosto de 2010

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#PRONTOFALEI

LULI RADFAHRER - folha@luli.com.br

O Orkut de quem usa terno

JÁ FOI FÁCIL arranjar emprego ou se manter nele. Bastava ter um diploma ou conhecer as pessoas certas. Recentemente essa dinâmica parecia ter migrado para a Internet. Um bom perfil em uma rede social profissional, diziam os consultores, era o caminho certeiro para encher os olhos do RH.
Os números de adesão são impressionantes. O LinkedIn, a maior dessas redes, já passou dos 75 milhões de membros, mais do que as populações da França e da Bélgica somadas. Ele cresce à taxa de um novo cadastro por segundo. Só no Brasil, já são mais de um milhão.
Bom demais para ser verdade? Óbvio. Todos são lindos, cultos e gentis nesse repositório de profissionais überqualificados à espera de oportunidades. Seus históricos são invejáveis, e suas referências, indiscutíveis. Mas quem se impressiona com o que vê por lá precisa lembrar que as primeiras salas de chat estavam sempre cheias de quem dizia ser jovem e loira e linda.
As redes podem ter se digitalizado, mas os relacionamentos continuam a ter sutilezas além da capacidade de compreensão de bases de dados. A prova disso está na quantidade de gente que se frustra em sites de encontros enquanto outros se apaixonam pelo colega com quem matam dragões em videogames. Quando o ambiente é formal ou intencional, há sempre uma retração. Já quando estão todos à vontade, as relações fluem melhor. Claro? Pois explique isso para uma máquina.
Nas redes, o contexto determina a função. Na Wikipédia a verdade é o maior valor, por isso qualquer atentado para corrompê-la é considerado um vandalismo. Já entre executivos o que vale é o networking, e aí não se pode esperar que alguém perca um contato potencial em nome da firma. Com isso, a maioria dos perfis se transforma em exercício de realismo fantástico ainda mais grandioso do que os velhos currículos. Recomendações são ainda piores, já que ninguém o culpará por elogiar um chefe ou cunhado.
Comunidades profissionais on-line são boas ferramentas, mas estão do lado errado da recepção. Elas seriam mais efetivas se estivessem dentro das empresas, depois do filtro da seleção. Sem a pressão social do cargo e salário e com a responsabilidade de uma indicação que afete a comunidade, não duvido que seriam ótimas para identificar a pessoa certa para cada função.


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