São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 2011

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ANDRÉ CONTI

Lego para transtornados


Sobreviver é o único objetivo em Minecraft, um desses jogos capazes de consumir a pessoa


Passei os últimos tempos construindo uma casa. Primeiro, tive de preparar terreno. Foram dias cortando madeira, juntando areia, água, granito. Bolei um projeto faraônico, três galpões ligados por uma rede subterrânea de túneis e mais uma porção de anexos e mirantes. Depois de gastar todo o material na base do primeiro galpão (que fica sobre uma montanha), voltei à mesa de trabalho e construí ferramentas novas, mais resistentes, e fui coletar matéria-prima. Dois meses se passaram. De verdade.
Resisti até o último minuto ao Minecraft, sabendo que era um desses jogos capazes de consumir a pessoa. Criado pelo programador Mar-kus "Notch" Persson no início do ano passado, Minecraft já tem quase 7 milhões de usuários registrados e 1 milhão de pagantes.
Todos dedicam horas de suas vidas ao mesmo ciclo sem fim: coletar matérias-primas, combiná-las, criar ferramentas e objetos, construir casas, palácios subterrâneos, cidades, uma estátua quilométrica à sua imagem e semelhança. Os gráficos, tridimensionais, são tão rudimentares quanto charmosos.
A versão paga, que custa € 15 e está em fase de testes, é a única que se parece com um jogo, ainda que timidamente. Há uma quantidade limitada de materiais, alguns minérios exigem longas escavações e, durante a noite, é preciso se defender de inimigos, com armas e tochas que você mesmo cria. Sobreviver é o único objetivo em Minecraft, e não é tão difícil assim. O resto do tempo você passa projetando e construindo o que bem entender.
Notch atualiza seu jogo com frequência, adicionando novos materiais, objetos e, num dia mais inspirado, um inferno inteiro, literalmente. A versão final sai em novembro, e os usuários que pagaram pelo beta receberão a sua sem custo.
Minecraft ainda está disponível de graça, embora esse módulo não seja mais atualizado. No Minecraft classic, não há coleta de materiais, inimigos, nada. Apenas um balde infinito de peças de Lego e todo o tempo livre que você tiver.
Dando uma volta pelos projetos mais arrojados, vê-se que tempo livre é o que não falta por aí. Há recriações de monumentos históricos, de cidades e fases de jogos, e há um canadense construindo um pequeno país, meio como o Epcot Center.
Não se oferece um grau de liberdade desses impunemente. Caso do jogador que criou um computador dentro de Minecraft, por exemplo. Aproveitando um sistema simples de alavancas e interruptores -puxe aqui e a luz acende, aperte ali e a porta abre-, ele fez um calculadora capaz de somar e subtrair.
O computador, que tem o tamanho de uma cidadezinha, é um pouco devagar, e o resultado demora alguns minutos até aparecer, mas ele funciona. O sujeito agora quer adicionar memória RAM na máquina virtual, o que a tornaria, em tese, capaz de rodar programas. Chega a ser comovente.
No site minecraft.net, você pode baixar o aplicativo ou jogar diretamente no navegador. E até o fim do ano será lançada uma versão para celulares e tablets, tanto Apple quanto Android. Prevejo vidas arruinadas e queda brutal de produtividade em diversos setores.
chorume.org
@andre_conti

LULI RADFAHRER
Leia a coluna desta semana em
www.folha.com/luliradfahrer




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