São Paulo, domingo, 27 de junho de 2010

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ANÁLISE

Terceira dimensão se expande e deve engolir óculos especiais

DIÓGENES MUNIZ
EDITOR DE MULTIMÍDIA

Aos olhos da classe médica, eles são sinônimo de conjuntivite. Para os cinéfilos, trambolhos admissíveis somente no escurinho do cinema. Mas ninguém gosta menos dos óculos 3D do que a própria indústria de tecnologia, para quem o utensílio é um mal (ainda) necessário. Ou cada vez mais desnecessário. Traduzindo tudo isso em pastiche hollywoodiano: "Óculos 3D, preparem-se para morrer!".
Visto há décadas como uma espécie de crachá para o universo tridimensional, o apetrecho enfrenta agora sua via-sacra, que começou na última edição da maior feira de informática do mundo. Realizada em março, na Alemanha, a Cebit fincou uma bandeira na terceira dimensão a olhos nus. Os lançamentos passearam de TVs a porta-retratos digitais 3D, a maioria sem exigir óculos.
O eco da festa hi-tech alemã pôde ser escutado nos corredores do megaevento de games E3, em Los Angeles (EUA). A gigante Nintendo revelou uma versão tridimensional do popular console portátil DS. Quando todos esperavam para descobrir em que cores estariam disponíveis suas armações, a empresa japonesa se saiu com uma tela de 3,5 polegadas autoestereoscópica. Óculos? Que óculos?
Guarde bem essa palavra grande e complicada. Por meio de lentes especiais instaladas na própria tela, a autoestereoscopia faz com que cada olho receba um tipo de imagem, induzindo nosso cérebro à ideia de tridimensionalidade. Os principais empecilhos desse padrão são os preços elevados e a necessidade de o espectador estar de frente para o conteúdo, nunca em um ângulo lateral.
Ainda assim, a autoestereoscopia está para a imagem 3D assim como a tela sensível ao toque está para o mouse tradicional.
Explico: mouse causa LER (lesão por esforço repetitivo). Segundo estudos de infectologistas, é tão sujo quanto um vaso sanitário. Por décadas, demandou cotonete para limpeza interna ou invariavelmente empacava. Nem por isso morreu, e lá se vão 40 anos com a ratazana debaixo da mão. Até a chegada das telas sensíveis ao toque popularizadas na tríade iPod touch, iPhone e iPad.
No caso dos óculos 3D, o script é o mesmo. Seu último bunker é a telona do cinema (maior, mais cara e mais difícil de ser adaptada). Todas as outras já estão embarcando na autoestereoscopia. Não é a feiura ou a falta de higiene, portanto, que eliminarão os óculos 3D. É a própria marcha da tecnologia.
Traduzindo tudo isso em pastiche hollywoodiano: "Hasta la vista, baby!".


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