São Paulo, quarta-feira, 29 de junho de 2011

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OPINIÃO

Fotografia de campo de luz: revolução ou 'hype'?

Tecnologia permite fotografar sem definir o foco, que é ajustado depois


AÇÃO DE 'CAÇAR' ELEMENTOS EM FOCO REPRODUZ O QUE O OLHO HUMANO FAZ AUTOMATICAMENTE

MARIO AMAYA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A mais nova revolução na fotografia é tão nova que ainda não tem nome definitivo.
Ela é chamada de fotografia plenóptica ou fotografia de campo de luz, mas poderia ser chamada de fotografia com profundidade, porque é exatamente isso que ela faz: registra toda a profundidade da cena.
Conceitualmente, a fotografia com profundidade não é novidade. Como produto, também não.
Mas agora a Lytro (www.lytro.com), uma empresa recém-fundada com capital de risco e chefiada por um pesquisador de Stanford, promete trazer para o mercado consumidor de massa uma câmera desse tipo, ainda neste ano.
Na fotografia convencional, cada ponto da superfície sensível à luz --sensor digital ou filme-- retém raios de luz de um ponto da cena, conforme o foco estabelecido pela lente.
Dessa maneira, sempre existe uma limitação na chamada profundidade de foco, isto é, a porção da cena que aparece em foco na fotografia.
Na fotografia com profundidade, o sensor é reorganizado de maneira a captar a informação da cena completa em cada um dos pontos.
É como se o sensor fosse subdividido em muitos pequenos sensores de imagem inteira, em vez de apenas um como na imagem convencional.
O benefício dessa captação de imagem é que, mediante processamento digital, a imagem pode ser livremente refocalizada em qualquer ponto após a captura.
Dependendo do tamanho do sensor e da lente empregados, também é possível extrair uma versão da imagem em 3D.
A técnica ainda permite a fotografia com pouca luz ou em alta velocidade.
As demonstrações da Lytro são fotos nas quais você clica com o mouse no ponto da foto que deseja ver em foco, enquanto o restante da imagem fica agradavelmente desfocado. A ação do usuário de "caçar" os elementos em foco dentro da foto reproduz a ação que o olho humano faz automaticamente.

PRÓXIMA INVENÇÃO
A fotografia sempre está em busca da próxima invenção genial capaz de revolucionar o meio. O curioso é que algumas das novidades mais impactantes dos últimos tempos são implementações práticas de conceitos muito mais antigos.
A fotografia em cores, por exemplo, já tinha sido inventada nos anos 1860; faltava-lhe apenas uma formulação comercial viável, que surgiu nos anos 1930. A imagem estereoscópica ou 3D, que estava esquecida e ressurgiu com força na última meia década, era trivial no final do século 19.
O conceito da fotografia plenóptica foi criado pelo cientista franco-luxemburguês Gabriel Lippmann (1845-1921), um dos inventores da fotografia em cores.
A ideia foi retomada na era digital por outros estudiosos, entre eles Todor Georgiev, um dos desenvolvedores do Adobe Photoshop.
A Adobe chegou a construir um protótipo da câmera, baseada na pesquisa de Georgiev. Em 2010, a companhia alemã Raytrix (raytrix.de) lançou comercialmente sua primeira câmera plenóptica --já são três modelos diferentes.
Por fim, o pesquisador Ren Ng, da Universidade Stanford --que já tinha publicado em 2005 um estudo sobre imagens plenópticas--, fundou a Lytro, a primeira empresa a anunciar um produto do tipo para o mercado de consumo.
A ambição da Lytro é revolucionar o mercado de equipamento fotográfico, que move US$ 30 bilhões por ano.
É significativo que a companhia prefira cair de paraquedas nesse mercado já bem estabelecido em vez de licenciar a sua tecnologia para vários fabricantes --uma prática mais usual, mas que renderia dividendos menores.
Estará nascendo a nova Kodak? A nova técnica poderá não suplantar a nossa banal fotografia em duas dimensões, mas certamente abrirá um novo campo de criação e expressão visual.

MARIO AMAYA é fotógrafo, jornalista e editor da revista "Digital Photographer Brasil".


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