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Largo da Batata agoniza; Liberdade, não

Obras do metrô transformam o perfil de Pinheiros e põem uma pá de cal na marcante história nipônica do bairro

No entorno da nova estação Faria Lima, a modernização não se importou em preservar os sinais do passado

SILVIO CIOFFI
EDITOR DE “TURISMO”

Verso e anverso dos primórdios da colonização japonesa na cidade de São Paulo, o largo da Batata, em Pinheiros, e o bairro da Liberdade, na região central, vivem momentos urbanísticos opostos.

Enquanto no largo da Batata o que se vê ao redor da estação Faria Lima do metrô são demolições (e são raros os restaurantes nipônicos e o comércio oriental), no entorno da estação Liberdade viceja o turismo urbano -e é enorme a visitação, especialmente no finais de semana.

Na estação Faria Lima (que integra a linha amarela), novinha e com trens contemporâneos em que o usuário circula entre os vagões, são acanhadas as inscrições em inglês. Na estação Liberdade, servida pelos trens mais antigos da linha azul, também há poucos sinais que incorporam palavras estrangeiras como "Exit" (saída).

Entre ambas, nas baldeações que o usuário faz na Sé (linha vermelha), a sinalização bem que poderia incluir com mais destaque orientações em outros idiomas e, ainda, as cores que correspondem às linhas, como é comum em metrôs pelo mundo.

Na decadência momentânea que acomete o lado de Pinheiros, verifica-se que, entre os escombros, pouco ou nada dos prédios antigos vai sobrar depois de concluída a estação Faria Lima, o que denota descaso com a história.

Antropofágica por natureza, São Paulo não se importa com o passado dos bairros, que, no caso do largo da Batata, é pioneiro e remonta à ocupação indígena de 1562, estabelecida no local onde, hoje, fica a igreja Nossa Senhora do Monte Serrat.

Depois disso, a ocupação dessa área remonta à atividade dos comerciantes japoneses (muitos eram batateiros), estabelecidos desde 1929 no entorno da extinta Cooperativa Agrícola de Cotia (CAC).

Resquícios desse comércio de origem nipônica estão na rua Martim Carrasco, que logo mais deve virar caminho pedonal. Na altura do número 80, a Casa Ito vende calçados e confecções e, no número 68, a imensa loja Pesca Pinheiros é referência no setor.

Ainda em boa forma, o restaurante Yashiro, na rua Fernão Dias, 525, alude ao tempo em que o comércio nipo-paulistano dominava o largo da Batata. Serve ensopados (sukiaki) feitos na mesa e tem um divertido sushi bar. Espaçoso, o Yashiro tem salas com tatame no piso superior e, sem bebida, os gastos giram em torno de R$ 50 por pessoa.

O início do ocaso do bairro tal como ele era se deu em 1990, durante a prefeitura de Paulo Maluf, quando desapropriações ocorreram para ligar as avenidas Faria Lima e Pedroso de Morais.

Surgiu então o Instituto Tomie Ohtake, prédio exageradamente alto e espalhafatoso que destruiu uma igreja protestante japonesa dos anos 1920 para edificar outra, pós-moderna e sem história, em seu lugar.

Ainda perto do largo da Batata, o gigantesco Sesc Pinheiros, na rua Paes Leme, 195, é referência de centro cultural, especialmente para quem frequenta de teatro.

Nos arredores, há uma cratera nada amistosa na esquina das ruas Sumidouro e Amaro Cavalheiro. As casinhas do entorno estão para vender e há quem se lembre com medo do acidente que, em 2007, nas proximidades da marginal Pinheiros, deixou sete mortos e adiou as obras da linha Amarela.

O OUTRO LADO DA MOEDA

Na outra ponta do passeio de metrô, o bairro da Liberdade fervilha. Há cem anos, em 1912, os primeiros imigrantes japoneses foram morar na rua Conde de Sarzedas e, desde logo, fundaram seus primeiros negócios: uma hospedaria, uma fábrica de tofu (queijo de soja), um empório.

Cerca de 2.000 japoneses viviam em São Paulo em 1932 e, estima-se que, nessa época, 600 deles moravam naquela rua de nome pomposo.

A Liberdade mudou, os japoneses se tornaram brasileiros e escreveram uma das mais belas páginas da nossa história. E, felizmente, nesse bairro está ativo o Museu Histórico da Imigração Japonesa, na rua São Joaquim, 381. O local conta a trajetória dos primeiros imigrantes exibindo, em três andares, 10 mil fotos, 28 mil documentos e 5.000 objetos, dando uma aula de memória e preservação.

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