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Folha mostra para Emerson fotos inéditas

O primeiro acidente

[A pedido da Folha, Julio Penteado mostrou ao piloto imagens inéditas de um acidente de Emerson em Interlagos, em 1966. As fotos, de autoria do engenheiro João Rodrigues, que tinha 16 anos, não foram divulgadas na época a pedido do piloto]. Que surpresa! Rodei na curva três e fui parar no mato. Daí vi o fotógrafo e perguntei: "Você é repórter?". Ele falou: "Não, sou estudante...". Imagina a cena? Então pedi: "Não publica as fotos, meus pais não vão me deixar mais correr!". [Emerson aponta nas fotos] Olha o Wilson, meu irmão [o piloto Wilson Fittipaldi Jr., idealizador do primeiro F-1 brasileiro], está aqui do meu lado. Aqui está o mecânico; o Chiquinho Rosa, você viu o Chiquinho Rosa [administrador do circuito de Interlagos]? Essa aqui é a molecada que morava lá perto, atrás do autódromo! Olha eu tirando o carro, empurrando, o Wilson ajudando...

E dona Juzy disse sim...

[A mãe de Emerson, Józefa "Juzy" Wojciechowska, proibiu, no começo, que Emerson corresse com motos de potência superior a 50 cilindradas, as "cinquentinhas"]. Minha mãe, que morreu em 2006, nasceu na Rússia, perto da Ucrânia, não sei bem onde. Mas eu não falo russo, nenhuma palavra.

Um ano antes de ela morrer, fui correr lá na África [do Sul], uns anos atrás [2005], naquele Grand Prix Masters.

Foi uma corrida depois de algum tempo fora. Depois do acidente em Michigan [em 1996], nunca mais tinha andado rápido, e havia decidido: parou, acabou.

Mas depois fui lá nesse GP Masters, andei no carro e falei para os organizadores: "Deixa ver como é que eu vou me sentir depois do acidente".

Aí falei para a minha mulher, que estava comigo: "Deixa eu dar umas voltas". Depois de umas três, quatro voltas, sumiu aquele trauma do acidente e comecei a me sentir bem. E a Kyalami nova [pista sul-africana] é uma pista curta e no sentido contrário ao que a gente andava. E comecei a andar rápido. Parei e falei para o pessoal: "Olha, eu quero andar mais". A gasolina do carro dava para poucas voltas. Aí eu dei umas 20 voltas seguidas.

Quando saí do carro, falei: "Quero correr!". Olhei o horário e pensei: "Deixa eu ligar para a minha mãe". E falei: "Mãe, estou na África" -imagina, depois do acidente, o que ela passou...-, "no Grand Prix Masters, está também o Nigel [Mansell], a nossa turma toda! O [Hans-Joachim] Stuck, o Alan Jones, o Riccardo Patrese, me deu vontade de correr. O que você acha?". Ela respondeu: "Filho, se é o que você mais gosta, vai lá, acelera". Não é demais?

No tempo da cinquentinha

No começo, quando dona Juzy me deixava correr só de moto cinquentinha, me convidaram para pilotar uma moto Silco, de 165 cilindradas. Eu tinha 15 anos. Troquei de capacete e de macacão, fui incógnito. Mas ela ficou sabendo.

Quando cheguei em casa, vi que o clima estava pesado e chamei um amigo, o Roberto Nabuco: "Vem aqui, senti que a coisa não está boa". Logo minha mãe perguntou: "Como foi o seu dia?". E respondi: "Ah, mãe, fui velejar, mas tinha pouco vento, foi meio chato". "Ah, está bom! Você quer comer?". Eu disse: "O Roberto vai comer aqui".

Servido o jantar, ele foi embora, e eu pensei: "Estou safo". Aí ela falou: "Vem aqui conversar", e fechou a copa. Pegou uma vassoura e me deu uma vassourada. E eu nunca mais corri de moto.

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