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Caxemira à espera de turistas

Atingida pela insurgência contra a Índia, em um conflito que já causou mais de 70 mil mortes, a região da Caxemira aos poucos retoma o turismo, atraindo viajantes para suas montanhas

HELEN PIDD
DO “GUARDIAN”, EM SRINAGAR

Dois anos atrás, a cidade velha de Srinagar era o tipo de lugar no qual os policiais só se aventuravam usando coletes à prova de bala.

Reduto de separatistas violentos que lutam por uma Caxemira independente, o local serviu de polo a levantes que causaram mais de cem mortes e enterraram com elas os sonhos de paz na região.

Mas as coisas mudam -e rápido. Na semana passada, turistas despreocupados percorriam as mesmas ruas, fazendo fila para comprar "tikka" e pratos de "rogan josh". A mesquita de Nowhatta, onde na metade de 2010 os jovens se reuniam depois das orações da sexta-feira para atirar pedras contra as forças de segurança, se tornou ponto de parada de passeios pela cidade velha.

À beira do lago Dal, casas-barco precisam ser reservadas com meses de antecedência. Nos deslumbrantes jardins mughal que ocupam as encostas em torno do lago, os visitantes podem se deixar fotografar diante de um dos panoramas mais bonitos da Ásia. E as estações de esqui em Gulmarg, bem perto da cidade, estavam repletas de turistas russos ricos.

Em 2002, apenas 27 mil turistas ousaram visitar o vale da Caxemira, assustados com a insurgência contra a Índia, que custou mais de 70 mil vidas desde seu início, em 1989. Até agora, neste ano, a região recebeu quase 1 milhão de visitantes -mais de 23 mil vindos de fora da Índia.

IMAGEM EXTERNA

Mas o número de britânicos entre eles, por exemplo, foi de apenas 150 -em larga medida porque o Ministério do Exterior do Reino Unido se recusa a alterar as recomendações assustadoras quanto à região. Omar Abdullah, nascido em Essex e ministro-chefe da Caxemira, vem pressionando a alta comissão britânica em Nova Déli a alterar as recomendações.

No ano passado, a Alemanha adotou normas mais relaxadas para as pessoas interessadas em viajar à Caxemira. "Os estrangeiros não costumam ser alvos diretos de ataque nos confrontos", é o que dizem as recomendações alemãs reformuladas.

A Caxemira está se tornando menos militarizada, insiste Abdullah. Em Srinagar, 40 casamatas das Forças Armadas foram demolidas, ele diz, e alguns batalhões de unidades paramilitares foram retirados, porque se provaram desnecessários. Ele admitiu que a forte presença das forças de segurança pode incomodar. Mas insistiu em que um dado muito repetido, o de que existe no Estado um soldado para cada 24 cidadãos, é um forte exagero.

Porém, Abdullah também admitiu que a Caxemira está distante da normalidade. Em abril, falou sobre a suspensão da odiada lei de poderes especiais das Forças Armadas em certas áreas. Mas depois de incidentes com militantes, a suspensão foi adiada.

O ministro-chefe insiste em que os turistas estão seguros na Caxemira, "desde que tomem as precauções que normalmente tomariam". Ou seja, não sair a passeio nas imediações da Linha de Controle, a fronteira interna que separa as áreas ocupadas pela Índia e pelo Paquistão no Estado de Jammu e da Caxemira, e evitar pontos de conflito como a cidade de Sopore.

Syed Ali Shah Geelani, líder do partido Conferência Hurriyat, que defende a independência da Caxemira, discorda da maioria das posições políticas de Abdullah, mas quanto ao turismo os dois fazem coro.

No verão, Geelani publicou uma carta aberta aos turistas e peregrinos dizendo: "Qualquer que seja sua fé, qualquer que seja seu idioma, qualquer que seja a região de onde vem, um elo comum nos une, o elo da humanidade. Recebê-lo como convidado é uma honra, e respeitar e proteger os convidados é não só uma obrigação moral mas um artigo de fé para nós".

No entanto, um grupo islâmico local causou incômodo em junho depois de divulgar "normas de vestuário" para os turistas estrangeiros.

Abdullah suspira quando menciono o incidente. "Ninguém espera que os turistas venham para cá e adotem a burca e a abaya ou andem de rosto coberto. Creio que o ponto básico do comunicado era pedir sensibilidade à nossa identidade cultural e que as pessoas se vestissem adequadamente. Para mim, isso representa bom senso."

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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