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Turismo desenfreado traz mudanças à capital Lhasa

'Invasão' em massa foi incentivada pela inauguração de ferrovia em 2006

No verão setentrional, os turistas superam em mais de dez vezes os fiéis em Jokhang e em outros lugares sagrados

DO ENVIADO A LHASA

Destoando da multidão de turistas que se acotovela no templo Jokhang, o mais sagrado do Tibete, uma idosa, em trajes escuros típicos, agarra firme a mão de uma menina de cerca de sete anos com um tênis cor-de-rosa, provavelmente sua neta.

A dupla para numa das capelas mais bonitas do templo, com um imenso Buda dourado. Após rápida conversa da idosa com um dos monges, a menina passa por baixo do corrimão de madeira, sobe umas escadas e ora deitada de bruços diante da estátua.

O vertiginoso crescimento do turismo vem trazendo mais mudanças a Lhasa em uma década do que durante todos os séculos desde que se tornou a capital do Tibete, há 1.300 anos.

De uma experiência espiritual num dos lugares mais isolados do mundo, a visita hoje é marcada por hordas e hordas de viajantes em prédios históricos cercados por uma cidade que, rapidamente, perde a identidade própria.

A "invasão" em massa foi incentivada pela inauguração da ferrovia até Lhasa, em 2006, e, principalmente, pelo aumento de renda dos chineses. No verão setentrional, os turistas superam em mais de dez vezes o número de fiéis em Jokhang e em outros lugares sagrados.

O turismo é a etapa mais recente do esforço de integração do Tibete ao resto da China empreendida pelo regime comunista, que anexou a região militarmente em 1950.

Naquela época, Lhasa tinha só um punhado de residentes chineses entre seus 30 mil moradores. Hoje, é uma cidade de 400 mil habitantes. Desses, segundo números oficiais, 20% são chineses, entre migrantes, funcionários públicos e tropas militares.

O resultado é que o novo casco urbano se assemelha a qualquer cidade chinesa, com avenidas largas e prédios sem nenhum atrativo arquitetônico maior. Em alguns comércios, os letreiros estão em mandarim, esquecendo o tibetano e sua grafia própria.

Apesar do crescimento rápido e desenfreado, o centro histórico de Lhasa, conhecido como Barkhor, ainda transmite a sensação de cidade antiga. O pavimento de grandes pedras, as ruas estreitas, o pequeno comércio de artigos budistas e os edifícios baixos e tortos em estilo tibetano revelam uma cultura autóctone.

A cerca de 2 km do Barkhor, o palácio Potala, antiga residência do dalai-lama, também resiste à passagem do tempo. Seus 13 andares ainda se impõem sobre a cidade com dimensões que impressionam passados mais de 300 anos de sua construção.

O Potala é dividido em duas partes. No palácio Vermelho, estão as tumbas de antigos dalai-lamas, os líderes espirituais do budismo tibetano. Uma delas foi erguida com meia tonelada de ouro.

No palácio Branco, ficam os aposentos privados do dalai-lama, sem morador desde que o atual se exilou, em 1959. Provavelmente, é o único leito não ocupado de Lhasa.

(FABIANO MAISONNAVE)

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